segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Duarte Lima e os nossos políticos profissionais...

[Este texto é a opinião de Eduardo Pitta que consta no seu site , clique em cima. Reproduzo para que se conheça melhor com quem lidamos todos nós. AZ]

A revista Sábado que ontem chegou às bancas dedica oito páginas a
Duarte Lima, desde o tempo em que, órfão de pai aos 11 anos, ajudava a
mãe a vender peixe em Miranda do Douro. À beira de completar 56 anos
(Novembro), Duarte Lima tornou-se um homem imensamente rico. A
investigação de António José Vilela e Maria Henrique Espada está
recheada de detalhes picantes. Na sua casa da Av Visconde de Valmor, em
Lisboa, Duarte Lima dava jantares impressionantes, confeccionados in
situ por Luís Suspiro; no fim do ágape, o chef vinha à sala explicar aos
convidados  —  entre outros, Manuel Maria Carrilho, Ricardo Salgado,
João Rendeiro, Horácio Roque, Adriano Moreira e José Sócrates  —  a
génese das suas criações. Ângelo Correia, que o lançou na política em
1981, nunca foi convidado para esses jantares. O andar da Visconde de
Valmor foi decorado por Graça Viterbo: a decoradora cobrou 705 mil
euros. Quando entrou para a Universidade Católica, graças a uma bolsa
que o isentou das propinas, foi ignorado pelos colegas: era pobre,
vestia-se mal e vinha da província. Só Margarida Marante se aproximou
dele. Duarte Lima oferecia-lhe alheiras confeccionadas pela mãe. Em 1980
já era maestro do coro da Católica. Pacheco Pereira e Santana Lopes
assistiam embevecidos aos seus concertos de órgão. O estágio de
advocacia foi feito no escritório do socialista José Lamego, então
casado com Assunção Esteves, actual presidenta da AR. O primeiro
casamento (1982) foi celebrado pelo bispo de Bragança. Em 1983 chegou a
deputado e, em 1991, a líder parlamentar e vice-presidente do PSD. Nos
anos 1980-90 era das poucas pessoas a quem Cavaco atendia o telefone a
qualquer hora. Até que, em 1994, o Indy, então dirigido por Paulo
Portas, obrigou o Ministério Público a investigar as suas contas.
Demitiu-se de cargos políticos e aguardou a conclusão do processo. Com o
assunto arrumado, candidatou-se em 1998 à Distrital de Lisboa do PSD.
Ganhou, derrotanto Passos Coelho e Pacheco Pereira. A leucemia afastou-o
do cargo. Volta ao Parlamento por dois mandatos: 1999-2002 e 2005-2009.
Segundo a revista, Duarte Lima depositou nas suas contas, entre 1986 e
1994, mais de cinco milhões de euros, parte considerável (25%) em cash.
É membro da Comissão de Ética do Instituto de Oncologia de Lisboa e
fundou a Associação Portuguesa Contra a Leucemia. Agora é o principal
suspeito do assassinato de Rosalina Ribeiro.

Nada disto me impressiona, excepto o facto de Duarte Lima ter obtido do
BPN, em 2008, pouco antes da nacionalização do banco, um empréstimo de
6,6 milhões de euros, «contraído sem a apresentação de qualquer
garantia». O affaire Duarte Lima é um caso de polícia. Mas o affaire
BPN, sendo também um caso de polícia, é sobretudo um assunto de Estado.
E nenhum jornal ou revista investiu ainda o bastante para o dilucidar.


http://daliteratura.blogspot.com/2011/09/isto-dava-um-filme.html

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