Portugal: Análise perfeita
Ponta Delgada, 10 de Abril de 2011
Os políticos do chamado "Arco do Poder" continuam a ceder aos interesses espúrios do agiotismo internacional. Não cremos que sejam ignorantes e menos ainda, inocentes. A última cartada socrática de solicitar ajuda financeira ao FEEF (Fundo Europeu de Estabilização Financeira), onde a presença tutelar do FMI é inelutável, demonstra como a nossa Elite Politica não tem quaisquer escrúpulos de natureza patriótica quando se trata de obedecer às ordens do Sistema Financeiro Internacional, de que a banca portuguesa, incluindo o Banco de Portugal, segue caninamente. Veja-se que o próprio Jean-Claude Trichet, presidente do Banco Central Europeu, "pressionou" os bancos portugueses a fazerem um ultimato ao Governo de José Sócrates no sentido deste pedir ajuda financeira, conforme tem sido noticiado...
A este respeito, se alguém ainda tem dúvidas sobre a honorabilidade dos banqueiros portugueses, e sobre a sua articulação "descarada" com os Centros do Capital Financeiro Internacional, deve deixar de as ter, porque é tão óbvio que só um distraído não as percebe... Ao menos estes acontecimentos põem a nu uma realidade que os homens de mão do sistema desdenham, procurando reduzir ao ridículo os que há muito denunciam a existência de uma Elite Global a comandar o destino da Humanidade e que tem no Sistema Financeiro Internacional o principal instrumento de submissão dos povos.
A decisão da banca portuguesa de cortar o crédito ao Estado, para além de imoral e até inédita, é a prova acabada de que o Interesse Nacional não é uma prioridade na sua escala de valores. Os banqueiros portugueses morderam de facto a mão de quem os tem sempre ajudado. Da última vez, final de 2008, o governo disponibilizou cerca de 9 mil milhões de Euros em avales para suprir problemas de liquidez nos bancos, tendo inclusive nacionalizado um banco falido, BPN (Banco Português de Negócios), que usou e abusou de aplicações financeiras de alto risco. O Governo justificou a sua decisão com a necessidade de garantir um "clima de confiança"... Do nosso ponto de vista, trata-se de um argumento no mínimo falacioso, que será mais tarde substituído por outro, não menos eufemístico, "a acalmia dos mercados", que tanto se evoca para justificar as medidas discricionárias que se tomam na defesa do Sistema Financeiro Internacional. Por que será que o agiotismo está sempre tão deprimido, carecendo de tratamento psiquiátrico? Será por má consciência dos seus actos?
Na verdade, o Estado, ao longo da História, sempre procurou satisfazer os "caprichos" da banca, como se fosse uma "Prima-dona"... Com o advento do Neoliberalismo, abandonou a sua função histórica de apoio ao investimento produtivo, logo social, e deu lugar à "Industria Maldita" da especulação financeira, como alguém recentemente muito bem classificou, tendo a partir daí se tornado muito mais refinada nas suas exigências... Desde logo exigindo um tratamento de excepção em matéria de tributação. O Estado perdoa-lhe cerca de 1/3 do IRC, imposto sobre os lucros, da taxa que exige sem remissão aos agentes de qualquer outra actividade empresarial. Mais, tal imposto é calculado sobre resultados depurados de lucros obtidos em investimentos colaterais, nomeadamente nas off-shores. Daí que seja possível aos banqueiros apresentarem lucros em tempo de crise, ao mesmo tempo que diminuem, percentualmente, a sua contribuição para os cofres da Fazenda Pública, como recentemente foi anunciado. Tal, além de imoral, mostra como a actividade bancária está a trabalhar em "roda livre", sem qualquer receio de censura da opinião pública e menos ainda dos Governos. Fica assim claro que o sector bancário é a actividade económica privada mais protegida pelo Estado, funcionando em cartel e em regime de oligopólio, o que contradiz flagrantemente o espírito da Economia de Mercado que tanto se defende e apregoa. Pudera! Tal protecção contrasta com a ausência de verdadeiras políticas de apoio financeiro e económico às forças do Trabalho. Veja-se como o comércio da quinquilharia chinesa no nosso mercado destruiu a pequena e média indústria e o comércio do ramo. Veja-se como a entrada de grandes superfícies comerciais de Capital Estrangeiro destruiu o comércio a varejo de milhares de portugueses. Se alguém ainda tem dúvidas do que acabamos de afirmar, basta olhar para os números das falências e do subsequente desemprego, que já roça os 700 mil trabalhadores, que assistimos desde que os sucessivos governos escancararam a porta à Globalização Económica. Alguém já viu algum banco português encerrar as portas por causa da concorrência externa?
Estas contradições são apenas aparentes e visam o mesmo, cujo sentido não pode ser percebido pelo incauto. Estão eivadas de um sinistro calculismo político e apresentam-se como algo "natural" inelutável... Contudo os mais argutos já perceberam que há uma correlação directa entre uma banca cada vez mais protegida pelos sucessivos governos nacionais e o desinvestimento na Economia, com o consequente destruição do Estado Social. A propaganda de convencimento da opinião pública faz o resto... Dá que pensar, não?
A sanha especulativa conta também com a distracção do Estado, para não lhe chamarmos outra coisa... Vejamos. O crescimento da Dívida Pública interessa sobremaneira aos investidores, institucionais ou não, do chamado Mercado de Derivados Financeiros sobre Obrigações do Tesouro, um segmento muito procurado pelos especuladores financeiros. Os bancos privados começam a saga especulativa emprestando dinheiro ao Estado a taxas entre 6% a 10%, conforme o período de maturação, que tomam do BCE a 1%. Poucas vezes o Banco Central Europeu fê-lo directamente e quando o fez, as taxas foram sempre superiores a 1%. Por quê? Os deuses que respondam... E não se contentam apenas com os juros que sobem à medida que as agências de notação financeira baixam o "rating" dos devedores. Lançam naquele mercado "papéis" sobre os créditos tomados pelo Governo, onde oferecem rendimentos supimpas entre 18% a 36%, ou mais, no curto prazo, concorrendo inclusivamente com o próprio Estado, já que este também vende Títulos do Tesouro, mas obviamente com rendimentos muito inferiores. Aqui se levanta a questão: como podem pagar tão aliciante remuneração, em tão curto espaço de tempo? A resposta só um orago a pode dar... Sem querermos ser maldizentes, dá para perceber porque os banqueiros e os especuladores de todos os matizes acarinham tanto as off-shores, que é uma autêntica lavandaria de dinheiro de proveniência ilícita. É só somar 2 e 2...
A lógica do Sistema Financeiro Internacional não vai no sentido de ajudar o desenvolvimento das Economias Nacionais para que possam honrar as Dividas Soberanas. Trata-se de um vil engano. Na verdade o que se pretende é o contrário, ou seja, criar dependências aos Estados para que estes mantenham aquele a funcionar indefinidamente. E os Governos, solícitos, não se fazem de rogados, embora gritem pelo "interesse nacional e patriótico". Enganam-se portanto aqueles que julgam haver alguma "bondade" no "auxílio" financeiro que tanto os "especialistas" de serviço reclamam. As instituições financeiras, como o FMI, apenas procuram garantir aos bancos o retorno dos créditos e da rendibilidade destes, nos prazos estabelecidos, independentemente dos custos económicos e sociais que possam causar. O maior medo dos credores é terem que renegociar as dívidas, naquilo que se chama "Reestruturação da Dívida", porque perdem a rendibilidade expectável dos créditos disponibilizados e, como são Sociedades Anónimas, não podem frustrar a expectativa de dividendos dos accionistas. Não vêm pois para nos ajudar, mas para extorquir aos rendimentos do Trabalho recursos tangíveis que valorizem o seu património mobiliário, Capital que em grande parte só existe num monitor de computador... e acentuar a dependência financeira dos Estados.
O incrível disto tudo é que os bancos conseguem financiar os Estados sem praticamente gastar um tostão do seu bolso... Primeiro, através da chamada Reserva Fraccionada, que lhes permite emprestar cerca de 10 vezes dos valores em depósito, o que significa que ganham dinheiro tangível, juros, com dinheiro que não existe de facto... usando e abusando da confiança que todos nós depositamos neles, ou seja, criam dinheiro do nada... Segundo, no caso do FEEF, que inclui o FMI, os fundos criados são gerados pelas quotas de cada Estado Membro, valores que, por sua vez, são retirados aos impostos dos contribuintes. Significa que uma quota-parte do financiamento que o Governo está a negociar com aquelas instituições é paga pelos portugueses com o seu Trabalho. Ora toma, que é democrático!
Esta dependência financeira dos Estados, sobretudo os de economia mais débil, como a de Portugal, também interessa ao eixo Franco-Alemão, preocupado que está com o valor da Moeda Única e com a integridade da sua Economia. Daí os recados e reprimendas da "premier" alemã Ângela Merkel ao Governo perdulário de José Sócrates. A consequência mais danosa para a Economia Nacional, desde que Portugal se integrou no Mercado Comum Europeu, foi a destruição do nosso aparelho produtivo, que levou ao encerramento de muitas actividades económicas que hoje bastante falta nos fazem para combater a actual Crise Económica. Tal situação foi ainda agravada com a adesão ao Euro, uma moeda alienígena e sobrevalorizada administrativamente pelo BCE, o banco emissor. Como importamos mais que exportamos, o mercado interno tem uma carência permanente de divisas. Ora, se por acaso o país deixasse de receber financiamento externo, os exportadores alemães, franceses e outros ficavam a ver navios... Daí todo o interesse que Portugal não entre de facto em ruptura financeira, mas apenas que não retome a sua Economia... havendo pois uma gestão da nossa dependência externa no sentido de não prejudicar esses interesses, feita com a conivência dos políticos do chamado "Arco do Poder", que sempre foram "testas de ferro" do Sistema Financeiro Internacional.
Mas não somente a Direita e o Centro Esquerda têm contribuído para chegarmos ao caos financeiro que vivemos. A Esquerda também tem ajudado ao regabofe... Sob bonitas bandeiras sociais na defesa dos trabalhadores e dos mais carenciados, sem olhar a custos, mais não faz que criar "entropias" à Economia Nacional e nesse sentido faz o jogo da Oligarquia Financeira Internacional. No fundo, conscientemente ou não (Estamos em crer que a maioria dos seus militantes age de boa fé...), está a aumentar a procura do lado dos recursos, enquanto aquela, provocando sistematicamente a escassez de meios monetários, aumenta a dependência de Portugal em relação aos Centros Internacionais de Capital Financeiro. Vide por exemplo, as sucessivas greves, nomeadamente em empresas com participações de Capital Público, num momento de grave falta de dinheiro nos Cofres do Estado. Será que os Sindicatos não percebem a insensatez dessa luta? Não cremos. O curioso é que nos países, como na antiga URSS, na Coreia do Norte, na China e em Cuba, tais bandeiras não passam de uma miragem, onde as greves a existirem são fortemente reprimidas, para não falar da falta de Liberdade Politica e outras, sendo certo que também do lado do Capitalismo, o Estado Social é mitigado cada vez mais, pelo que "quanto pior, melhor"...
Artur Rosa Teixeira
(artur.teixeira1946@gmail.pt)
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