Deixo-vos aqui esta tradução para reflectir e se auto-educar para as eleições de 5 de Junho...
Excerto da Introdução do livro "La Politique du Mensonge", de Roger-Gérard Schwartzenberg.
[Tradução livre de Abrão Zacuto]
«Podemos continuar assim? E a política pode ela continuar o que ela é a maioria das vezes hoje? Esta experiência e artifício de ilusão que corrói a confianca na democracia. Na vida pública, daqui para a frente apercebida como espaço dos sinulacros e estratagemas. Como um jogo de traições e de falsas aparências. Fora da realidade. Da verdade.
Quem pode beneficiar deste mal-estar e deste descrédito, esta perda de confiança nas instituições públicas? Senão os defensores das soluções extremas? Se não os adversários da democracia que vemos por todo o lado a trabalhar como nos anos 1930?
Podemos nós ir de deriva em deriva? Ontem, já assim era, o Estado espectáculo. Hoje, a política mentirosa.
Desde há vários anos, a sociedade política tornou-se um lugar de atuação. Um universo de representação. E mesmo quase uma empresa de exibição permanente.
Com a personalzação crescente do poder, o "star system" ganhou a vida pública, desde então centrado em torno daqueles que disputam o primeiro papel. Retratos gigantes em posters, grandes planos de televisão, slogans de publicidade: todo um mundo de aparências suplanta a realidade.
A vida política tornou-se num show mediatizado. Assim vai a média política. A política feita sobre medida pelos media. Aquela que transforma os cidadãos em espectadores constrangidos de um poder sempre em representação. Em testemunhos passivos de uma classe política engajada num exercício de ostentação.
O Estado espectáculo, já instalado desde há muitos anos, transforma a democracia em parada. Em encenação. Mas não corrompe necessariamente. Concerteza, o espectáculo é permanente, mas não é sempre simulacro. Concerteza, há sempre exibição, mas nem sempre há truques. Vontade deliberada de enganar. De iludir.
Tal não é o caso de outra deriva, mais lamentavel ainda, que se desenvolve actualmente no seio do sistema do parecer, tornada comédia das aparências.
Hoje em dia, a mentira invade cada vez mais a política. E relega a verdade para fora dos muros da democracia. Como uma categoria tornada arcaica ou obsoleta. Inadaptada aos tempos presentes.
No fundo, sempre existiu duas concepções da política. Para uns, esta se confunde com a ética; ela é a aplicação da moral na condução das sociedades. Para outros, discípulos mais ou menos conscientes de Maquiavel, a política é um jogo de astúcias e de trapaça, um exercício de mentira e simulação.
A primeira tradição, que poderemos designar «política verdade», fundamenta-se sobre a sinceridade do discurso e o respeito pelo cidadão. Probidade, lealdade, rigor. Para ela, a democracia é antes de mais um código moral. Nada de política sem ética. Séneca ou Montesquieu não estão longe.
A segunda concepção, que poderemos chamar «política mentira», é a sua antítese. Aí, o poder toma-se e exerce-se pelo engano, pela trapaça. Está nos antípodas da moral comum. Aí, para tomar o poder e governar, não se trata mais de convencer pela franqueza do propósito e rectidão dos argumentos, mas do abusar. De iludir. Como se a vida pública torna-se em parada de sedução ou comércio de ilusões.
Esta segunda visão prevalece hoje em dia. Com ela, a política torna-se fogo de artifício. E, por vezes, exercício de impostura. Palavras e imagens e suportes: tudo parece se combinar para melhor enganar o público.
Palavras, palavras, palavras. A política torna-se a arte das falsas confissões. Das falsas promessas. E dos falsos sermões.
Em lugar de informar com franqueza os eleitores sobre as verdadeiros questões, ela é com frequência um exercício de fuga face à realidade. Tão prosaica. Frente à realidade. Tão constrangedora.
Cavalete e um planalto: as campanhas eleitorais regorgitam de promessas ilusórias e de previsões otimistas. Deixando na sombra as dificuldades e os constrangimentos do real. Para cultivar o sonho. «Sonhos, mentiras», como diz o provérbio.»
Excerto da Introdução do livro "La Politique du Mensonge", de Roger-Gérard Schwartzenberg.
[Tradução livre de Abrão Zacuto]
«Podemos continuar assim? E a política pode ela continuar o que ela é a maioria das vezes hoje? Esta experiência e artifício de ilusão que corrói a confianca na democracia. Na vida pública, daqui para a frente apercebida como espaço dos sinulacros e estratagemas. Como um jogo de traições e de falsas aparências. Fora da realidade. Da verdade.
Quem pode beneficiar deste mal-estar e deste descrédito, esta perda de confiança nas instituições públicas? Senão os defensores das soluções extremas? Se não os adversários da democracia que vemos por todo o lado a trabalhar como nos anos 1930?
Podemos nós ir de deriva em deriva? Ontem, já assim era, o Estado espectáculo. Hoje, a política mentirosa.
Desde há vários anos, a sociedade política tornou-se um lugar de atuação. Um universo de representação. E mesmo quase uma empresa de exibição permanente.
Com a personalzação crescente do poder, o "star system" ganhou a vida pública, desde então centrado em torno daqueles que disputam o primeiro papel. Retratos gigantes em posters, grandes planos de televisão, slogans de publicidade: todo um mundo de aparências suplanta a realidade.
A vida política tornou-se num show mediatizado. Assim vai a média política. A política feita sobre medida pelos media. Aquela que transforma os cidadãos em espectadores constrangidos de um poder sempre em representação. Em testemunhos passivos de uma classe política engajada num exercício de ostentação.
O Estado espectáculo, já instalado desde há muitos anos, transforma a democracia em parada. Em encenação. Mas não corrompe necessariamente. Concerteza, o espectáculo é permanente, mas não é sempre simulacro. Concerteza, há sempre exibição, mas nem sempre há truques. Vontade deliberada de enganar. De iludir.
Tal não é o caso de outra deriva, mais lamentavel ainda, que se desenvolve actualmente no seio do sistema do parecer, tornada comédia das aparências.
Hoje em dia, a mentira invade cada vez mais a política. E relega a verdade para fora dos muros da democracia. Como uma categoria tornada arcaica ou obsoleta. Inadaptada aos tempos presentes.
No fundo, sempre existiu duas concepções da política. Para uns, esta se confunde com a ética; ela é a aplicação da moral na condução das sociedades. Para outros, discípulos mais ou menos conscientes de Maquiavel, a política é um jogo de astúcias e de trapaça, um exercício de mentira e simulação.
A primeira tradição, que poderemos designar «política verdade», fundamenta-se sobre a sinceridade do discurso e o respeito pelo cidadão. Probidade, lealdade, rigor. Para ela, a democracia é antes de mais um código moral. Nada de política sem ética. Séneca ou Montesquieu não estão longe.
A segunda concepção, que poderemos chamar «política mentira», é a sua antítese. Aí, o poder toma-se e exerce-se pelo engano, pela trapaça. Está nos antípodas da moral comum. Aí, para tomar o poder e governar, não se trata mais de convencer pela franqueza do propósito e rectidão dos argumentos, mas do abusar. De iludir. Como se a vida pública torna-se em parada de sedução ou comércio de ilusões.
Esta segunda visão prevalece hoje em dia. Com ela, a política torna-se fogo de artifício. E, por vezes, exercício de impostura. Palavras e imagens e suportes: tudo parece se combinar para melhor enganar o público.
Palavras, palavras, palavras. A política torna-se a arte das falsas confissões. Das falsas promessas. E dos falsos sermões.
Em lugar de informar com franqueza os eleitores sobre as verdadeiros questões, ela é com frequência um exercício de fuga face à realidade. Tão prosaica. Frente à realidade. Tão constrangedora.
Cavalete e um planalto: as campanhas eleitorais regorgitam de promessas ilusórias e de previsões otimistas. Deixando na sombra as dificuldades e os constrangimentos do real. Para cultivar o sonho. «Sonhos, mentiras», como diz o provérbio.»
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