Extractos do imperdível livro de Daniel Inneraratti, "Em Defesa da Esperança Política"
[Tradução do Espanhol por Abrãao Zacuto com o intuito de informar e suscitar reflexão...]
"O ser humano é único no reino dos seres vivos que sabe que há futuro. Se os humanos se preocupam e esperam é porque sabem que o futuro existe, que este pode ser melhor ou pior e que tal depende de alguma forma deles. Mas saber isto não implica saber o que fazer com esse saber. Frequentemente o reprimem porque pensar no futuro distorce a comodidade da hora, que sabe ser mais poderosa que o futuro, porque está presente e porque é certo; o futuro, por sua vez, é algo que deve ser imaginado antecipadamente e, por isso mesmo, sempre é algo incerto. Dar-se bem com o seu próprio futuro não é tarefa fácil, pois que o instinto não nos garante a impossibilidade de nos equivocarmos; por isso é tão frequente que nos relacionemos mal com ele e temamos demasiado, ou esperemos contra toda a evidência, que nos preocupemos em excesso ou demasiado pouco, que não consigamos antecipá-lo ou configurá-lo na medida do possível.
Algo análogo sucede com as sociedades; também elas devem desenvolver essa capacidade de vislumbrar mais além do momento presente e também elas o fazem com desigual sorte. Boa parte dos nossos males e de nossa escassa racionalidade colectiva se deve ao facto de que as sociedades democráticas não se relacionam nada bem com o futuro. Em primeiro lugar, porque todo o sistema político e a cultura em geral estão voltados para o presente imediato e porque a nossa relação com o futuro colectivo não é de esperança e projecto, antes pelo contrário, é de precaução e improvisação. A partir dos anos stenta do passado século o futuro introduziu-se na nossa agenda, não porque queiramos configurá-lo mas porque se torna uma relaidade problemática: irrompem os limites do crescimento, as sombrias perspectivas ecológicas, se tematiza o risco, instala-se a crise da ideia de progresso...Os cidadãos se sentem cépticos face aos chamamentos para avançar até horizontes não imediatos e os políticos seguem comodamente esse jogo. De diversas maneiras hipotecamos socialmente o tempo futuro e exercemos sobre as gerações vindouras uma verdadeira expropriação temporal.
Está claro que não nos encntramos já na época da modernidade triumfante que desciplinou o futuro por meio de uma investigação metódica da natureza, a inovação tecnológica, a codificação do dereito e as instituições burocraticamente organizadas. Os procedimentos para dispor do futuro que as sociedades modernas desenharam parecem actualmente inúteis. Não é que antes o futuro fosse melhor, como sentenciaba ironicamente Karl Valentin, mas era mais claro. Há muitos factores que explicam o desvanecimento das velhas certezas em relação ao futuro. Cria mau estar a experiencia da mudança acelerada, mas sobretudo saber que essa aceleração problematiza ainda mais a nossa capacidade de configurar o futuro de modo significativo. A nossa relação com o futuro é mais complexa, menos ingénua. A sociedade do risco necessita de outros instrumentos de antecipação sem os quais o futuro pode escapar-se-nos irremediavelmente.[...]"
[Tradução do Espanhol por Abrãao Zacuto com o intuito de informar e suscitar reflexão...]
"O ser humano é único no reino dos seres vivos que sabe que há futuro. Se os humanos se preocupam e esperam é porque sabem que o futuro existe, que este pode ser melhor ou pior e que tal depende de alguma forma deles. Mas saber isto não implica saber o que fazer com esse saber. Frequentemente o reprimem porque pensar no futuro distorce a comodidade da hora, que sabe ser mais poderosa que o futuro, porque está presente e porque é certo; o futuro, por sua vez, é algo que deve ser imaginado antecipadamente e, por isso mesmo, sempre é algo incerto. Dar-se bem com o seu próprio futuro não é tarefa fácil, pois que o instinto não nos garante a impossibilidade de nos equivocarmos; por isso é tão frequente que nos relacionemos mal com ele e temamos demasiado, ou esperemos contra toda a evidência, que nos preocupemos em excesso ou demasiado pouco, que não consigamos antecipá-lo ou configurá-lo na medida do possível.
Algo análogo sucede com as sociedades; também elas devem desenvolver essa capacidade de vislumbrar mais além do momento presente e também elas o fazem com desigual sorte. Boa parte dos nossos males e de nossa escassa racionalidade colectiva se deve ao facto de que as sociedades democráticas não se relacionam nada bem com o futuro. Em primeiro lugar, porque todo o sistema político e a cultura em geral estão voltados para o presente imediato e porque a nossa relação com o futuro colectivo não é de esperança e projecto, antes pelo contrário, é de precaução e improvisação. A partir dos anos stenta do passado século o futuro introduziu-se na nossa agenda, não porque queiramos configurá-lo mas porque se torna uma relaidade problemática: irrompem os limites do crescimento, as sombrias perspectivas ecológicas, se tematiza o risco, instala-se a crise da ideia de progresso...Os cidadãos se sentem cépticos face aos chamamentos para avançar até horizontes não imediatos e os políticos seguem comodamente esse jogo. De diversas maneiras hipotecamos socialmente o tempo futuro e exercemos sobre as gerações vindouras uma verdadeira expropriação temporal.
Está claro que não nos encntramos já na época da modernidade triumfante que desciplinou o futuro por meio de uma investigação metódica da natureza, a inovação tecnológica, a codificação do dereito e as instituições burocraticamente organizadas. Os procedimentos para dispor do futuro que as sociedades modernas desenharam parecem actualmente inúteis. Não é que antes o futuro fosse melhor, como sentenciaba ironicamente Karl Valentin, mas era mais claro. Há muitos factores que explicam o desvanecimento das velhas certezas em relação ao futuro. Cria mau estar a experiencia da mudança acelerada, mas sobretudo saber que essa aceleração problematiza ainda mais a nossa capacidade de configurar o futuro de modo significativo. A nossa relação com o futuro é mais complexa, menos ingénua. A sociedade do risco necessita de outros instrumentos de antecipação sem os quais o futuro pode escapar-se-nos irremediavelmente.[...]"
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