sexta-feira, 27 de abril de 2012

O Erro Bom e o erro Mau-Texto de Rui Rangel, Juiz Desembargador



O erro bom e o erro mau

12 Abril 2012

Por:Rui Rangel, Juiz Desembargador

Vítor Gaspar, o contabilista--mor do regime, aquele que transmite a
ideia que nunca erra e que raramente tem dúvidas, disse, no seu tom
soletrado, que errou sobre a previsão do corte no subsídio de Natal e
de Férias dos portugueses. Passo a explicar.

Todo o Governo afirmou em peso que os cortes eram temporários e
vigoravam apenas em 2012 e 2013.

O nosso ministro veio dizer que se enganou, que teve um lapsus
linguae, que os cortes vão até ao ano de 2015, o ano, como disse,
"imediatamente consecutivo a 2014".

Tem piada, o ano de 2015, imediatamente consecutivo a 2014.

O País não é uma escola e os portugueses não são alunos de Vítor Gaspar.

O humor negro é dispensável quando se fala de problemas sociais, de
miséria, de pobreza escondida e de falta de dinheiro para o sustento
digno das famílias.

Soletra as palavras, fazendo lembrar alguém de outros tempos negros da
história de Portugal, como soletra a vida dos portugueses.

O erro de Gaspar é um erro mau que mexe com o orçamento das famílias,
deixando suspensas as suas vidas.

O erro bom é aquele que não tem consequências nem reflexos sociais,
que não é ofensivo da dignidade do ser humano.

O erro mau de Gaspar é indigno, amachuca e amarrota a dignidade dos
portugueses. Magoa falar assim da vida das pessoas. Todos nós podemos
errar. Mas errar com esta simplicidade e com esta justificação, com um
sorriso nos lábios, é que não.

O confisco por mais tempo, que deixa suspenso, de forma ilegal e
inconstitucional, direitos adquiridos, por causa de um lapso, não é
aceitável.

O erro é mau e intencional, tendo Gaspar agido com consciência da
ilicitude, logo, passível de responsabilidade. Não é um erro
desculpável, que exclua a culpa.

O erro é o reflexo da incompetência, sendo intencional, é mais grave,
porque é injusto e transforma a vida das pessoas num circo. Será que o
erro foi intencional porque não havia coragem política para
justificar, no momento, um corte tão prolongado?

Então, passamos a estar no território da mentira e não do erro. A ser
assim foi a forma que encontrou para preparar o elo mais fraco da
cadeia, os trabalhadores, para a brutalidade do corte, transformando-o
em definitivo.

Três anos de massacre social e de indigência é demais.

Dizia, assim, Frederico II, o Grande, Rei da Prússia: "A trapaça, a
má-fé e a duplicidade são, infelizmente, o carácter predominante da
maioria dos homens que governam as nações".

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