quinta-feira, 29 de março de 2012

PORTUGAL A SAQUE E A SALDO

PORTUGAL A SAQUE E SALDO: a luta pela independência nacional, nomeadamente económica, é urgente Pág. 1

Eugénio Rosa – Economista – Este e outros estudos disponíveis em www.eugeniorosa.com

PORTUGAL A SAQUE E A SALDO: Cada vez mais riqueza produzida em Portugal é

apropriada por grupos estrangeiros, ficando menos para os portugueses

RESUMO DESTE ESTUDO

Em Portugal, como consequência quer do investimentos realizado no exterior quer do investimento

estrangeiro em Portugal, está-se a verificar uma profunda descapitalização do país. E contrariamente à

ideia que o governo PSD/CDS e os defensores do pensamento económico neoliberal dominante nos

media pretendem fazer crer à opinião pública, o investimento tanto no exterior de portugueses como no

pais de estrangeiros não é, na sua esmagadora maioria, investimento directo produtivo, que cria

riqueza e emprego, mas sim visando obter juros, mais-valias, etc., ou seja, lucros fáceis e rápidos.

O investimento total no estrangeiro de portugueses ou de entidades com residência em Portugal

atingiu, em 31.12.2011, 291.629,3 milhões €. Apenas uma parcela pequena destes activos no exterior

(entre 15,4% e 18% do total) são investimento directo, ou seja, foram aplicados directamente em

empresas, para criar capacidade produtiva e emprego. Uma parte muito importante (39,6%) são os

chamados “investimentos de carteira”, ou seja, realizado em acções e obrigações de curta e média

duração visando a obtenção de ganhos financeiros rápidos. O mesmo sucede com os “Outros

investimentos no exterior”, que representavam 42,3% dos activos no exterior em 2011.

Situação semelhante verifica-se com o investimento estrangeiro em Portugal. Segundo o Banco de

Portugal, em 31.12.2011, a divida total bruta do país ao estrangeiro, resultante destes investimentos,

atingia 468.826,8 milhões €. Deste total, apenas 18% era investimento directo em Portugal (aquele que

é referido na propaganda oficial sobre investimento estrangeiro), ou seja tendo como objectivo directo

aumentar a capacidade produtiva e o emprego. Tudo o resto, na sua esmagadora maioria, eram

aplicações financeiras que visavam obtenção de juros, mais-valias, etc., ou seja, aplicações que

visavam arrecadar lucros rápidos e elevados. Como consequência, em apenas 6 anos (2006/2011),

foram transferidos para o estrangeiro 111.461 milhões €. de rendimentos gerados em Portugal, sendo

20,3%, ou seja, 22.681 milhões de euros, referentes a dividendos e lucros distribuídos, na sua maioria

de investimentos directos. Os restantes 79,3%, ou seja, 88.780 milhões de euros de rendimentos

resultaram, na sua maioria, de aplicações financeiras, para não dizer mesmo especulativas. Aqueles

111.461 milhões €. de rendimentos, embora gerados em Portugal, não foram investidos internamente

para criar riqueza e emprego, mas sim transferidos directamente para o estrangeiro, a maioria não

pagando quaisquer impostos em Portugal. Isto significa a descapitalização do pais em larga escala que

se agravará no futuro com a politica de privatizações a saldo levada a cabo pelo governo PSD/CDS

com o apoio da “troika estrangeira”.
O caso do BPN, vendido ao grupo bancário BIC, dominado por

angolanos, por 40 milhões € tendo o Estado Português capitalizado antes com mais de 500

milhões € e dado um crédito sem juros de 300 milhões €, o que levou a C.E a intervir, e o caso da

EDP vendida a um grupo chinês que agora, pelo que veio a público, pensa-se que o governo se

comprometeu a manter as “rendas excessivas”, que contribuíram para que a EDP tivesse, em

2011, 1125 milhões € de lucros líquidos (os maiores de sempre), pagas pelos consumidores,

mostra bem a politica de privatizações a saldo que um governo sem sentido nacional, sem

competência técnica e sem experiencia, e cego pelo ideologia neoliberal está a fazer sob o

comando da “troika estrangeira”, entregando a grupos económicos estrangeiros, até porque os

“nacionais” estão sem liquidez para comprar, instrumentos importantes do Estado para promover

o desenvolvimento e fonte de receitas para O.E. que será depois substituída por mais impostos.

O PIB (Produto Interno Bruto) corresponde ao valor da riqueza criada anualmente no país. O RNB

(Rendimento Nacional Bruto) corresponde à riqueza que, em cada ano, fica no país, e que é repartida,

embora de uma forma cada vez mais desigual, em Portugal. Em 1995, o PIB era superior ao RNB em

175,9 milhões €, portanto Portugal recebia mais do estrangeiro do que transferia para o exterior. Em

1996, com a entrada na União Europeia, a situação inverteu-se e Portugal começou a transferir para o

exterior mais do que recebe do exterior, situação que se agravou com a entrada para a Zona do Euro, o

que determinou que, em 2011, Portugal tenha transferido para o exterior mais 6.083,5 milhões € do que

recebeu do estrangeiro, o que provocou que o valor do PIB (o que se produziu nesse ano) tenha

atingido 171.112 milhões €, mas o valor do RNB (o que ficou em Portugal) tenha sido apenas de

165.028,5 milhões €. Em 2011, da riqueza criada por cada português com emprego, 1.251 € foram

transferidos para o estrangeiro apenas para cobrir este saldo negativo. Eis uma outra consequência da

politica que tem sido seguida em Portugal, agravada ainda mais pela terapia de choque imposta pela

“troika estrangeira” e pelo governo PSD/CDS, que tem sido escondida quer por estes “senhores” quer

ainda pelos defensores do pensamento económico neoliberal dominante nos media em Portugal.

No estudo anterior que publicamos, referimos que Robert Reich, ex- secretário de Estado do presidente

Clinton, em “AFTER SHOC – A economia que se segue e o futuro da América”, escreveu que “
Quando

o rendimento está concentrado em relativamente poucas mãos … as poupanças deles (ricos e muito

ricos) são acumuladas, para circularem numa fúria de especulação ou, sobretudo nos nossos tempos,

para serem investidos no estrangeiro
”. Interessa, por isso, conhecer o que está a acontecer em

Portugal nesse campo. Para isso, vamos utilizar dados divulgados recentemente quer pelo Banco de

Portugal quer pelo Instituto Nacional de Estatística. Se analisarmos o “activo” e o “passivo” da

chamada “Posição de Investimento Internacional” do país, cujos dados são trimestralmente divulgados

pelo Banco de Portugal no seu Boletim Estatístico, concluímos que a maior parte dos investimentos no

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estrangeiro (Activo), assim como a maioria do investimento em Portugal (Passivo) são de natureza

especulativa, pois não visam nem capacidade produtiva nem emprego, mas sim arrecadar juros

elevados, mais-valias, etc. Os quadros seguintes, construídos com dados constantes do Boletim

Estatístico de Fevereiro de 2012 do Banco de Portugal, mostram com clareza isso.

Quadro 1 – Valor e repartição dos Activos (investimentos) de Portugal no estrangeiro

A primeira conclusão importante que se tira dos dados do Banco de Portugal é que o investimento total

de residentes ou de entidades com residência em Portugal no exterior atingia, em 31.12.2011,

291.629,3 milhões euros, ou seja, era cerca de 1,7 vezes superior ao valor total do PIB de 2011

(riqueza criada no país durante o ano passado). Portanto, riqueza que foi criada em Portugal mas que

não foi investida em Portugal para produzir riqueza e criar emprego. Outra conclusão importante que se

tira dos dados do quadro1, é que apenas uma parcela muito pequena desses activos no exterior (entre

15,4% e 18% do total) são investimento directo, ou seja, foram aplicados directamente em empresas,

para criar capacidade produtiva. Um parte muito importante (39,6%) são os chamados “investimentos

de carteira”, ou seja, em acções e obrigações de curta e média aplicação visando a obtenção de

ganhos financeiros rápidos, o mesmo sucedendo com os “Outros investimentos no exterior”, que

representavam 42,3% dos activos no exterior em 2011. Uma situação muito parecida se verifica em

relação ao “Passivo” da “Posição de Investimento Internacional”, ou seja, aos investimentos de

estrangeiros em Portugal. O quadro 2, mostra com clareza a situação neste campo.

Quadro 2– Valor e repartição da divida (Passivo) de Portugal ao estrangeiro
(investimentos em Portugal)

ANOS

Investimentos

directos do exterior

em Portugal

Milhões euros

Investimentos de

carteira em Portugal

Milhões euros

Outros investimentos do

exterior em Portugal (*)

Milhões euros

Total do

PASSIVO do

País

Milhões €

% dos

Investimentos

directos em

relação Total

2008 71.832,8 180.145,5 178.568,9 449.503,5 16,0%

2009 79.626,3 216.297,1 174.991,6 494.355,1 16,1%

2010 83.584,8 197.107,6 165.658,9 506.322,1 16,5%

2011 84.267,9 145.244,4 178.362,0 468.826,8 18,0%

(*) Na rubrica "Outros investimentos do exterior" retiramos os empréstimos do BCE

FONTE: Boletim Estatístico - Fevereiro de 2012 - Banco de Portugal

Em 31.12.2011, a divida total bruta do país ao estrangeiro atingia 468.826,8 milhões de euros, ou seja,

correspondia 2,7 vezes o valor do PIB de 2011. Deste total, apenas 18% era investimento directo do

exterior em Portugal (aquele que é referido na propaganda oficial sobre investimento estrangeiro), ou

seja, investimento tendo como objectivo directo aumentar a capacidade produtiva de empresas. Tudo o

resto, na sua esmagadora maioria, eram aplicações financeiras que visavam obtenção de juros, maisvalias,

etc., os quais, na sua maioria, não pagavam impostos em Portugal. O quadro seguinte, com

dados do Banco de Portugal, mostra os rendimentos gerados em Portugal transferidos para o

estrangeiro nos últimos anos.

Quadro 3 – Rendimentos transferidos para o estrangeiro – 2006/2011

ANOS

Rendimentos

transferidos para o

exterior TOTAL

Milhões €

Rendimentos transferidos para

o exterior - Dividendos e lucros

distribuídos

Milhões €

% dos dividendos e lucros

distribuídos no Total de

rendimentos transferidos

para o estrangeiro

Rendimentos transferidos

para o exterior que não

tiveram como origem

investimento directo

Milhões €

2006 17.105 2.594 15,20% 14.512

2007 19.414 3.489 18,00% 15.925

2008 20.270 2.422 11,90% 17.848

2009 17.015 4.401 25,90% 12.614

2010 19.551 5.393 27,60% 14.158

2011 18.106 4.383 24,20% 13.723

SOMA 111.461 22.681 20,30% 88.780

FONTE: Boletim Estatístico - 2006-2012 - Banco de Portugal

ANOS

Investimentos directos

de Portugal no exterior

Milhões euros

Investimentos de

carteira no exterior

Milhões euros

Outros

investimentos no

exterior

Milhões euros

Total dos activos

no exterior

Milhões euros

% dos

Investimentos

directos em

relação Total

2006 40.989,9 121.744,4 114.289,6 277.023,9 14,8%

2007 45.994,0 129.469,5 123.487,6 298.951,1 15,4%

2008 45.272,7 126.713,3 112.236,4 284.222,4 15,9%

2009 47.529,8 146.247,4 114.262,5 308.039,7 15,4%

2010 49.941,7 145.796,6 125.434,3 321.172,6 15,5%

2011 52.593,9 115.630,0 123.405,4 291.629,3 18,0%

FONTE: Boletim Estatístico - Fevereiro de 2006 - Fevereiro de 2012 - Banco de Portugal

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Eugénio Rosa – Economista – Este e outros estudos disponíveis em www.eugeniorosa.com

Em apenas 6 anos (2006/2011), foram transferidos para o estrangeiro 111.461 milhões €,

rendimentos gerados em Portugal, sendo 20,3%, ou seja, 22.681 milhões €, referentes a

dividendos e lucros distribuídos, na sua maioria de investimentos directos. O restante, ou seja,

79,3%, isto é, 88.780 milhões €, são rendimentos resultantes, na sua maioria, de aplicações

financeiras, para não dizer mesmo especulativas. Um aspecto importante que interessa destacar,

é o facto daqueles 111.461 milhões € terem, na sua esmagadora maioria, como origem lucros,

dividendos, juros, mais-valias, etc., gerados em Portugal, que não são investidos internamente

para criar riqueza e emprego, mas sim transferidos directamente para o estrangeiro, e a maioria

não paga quaisquer impostos em Portugal. É uma autêntica descapitalização do pais que tem

lugar todos os anos, mesmo com a crise (18.106 milhões de euros em 2011), o que agrava ainda

mais a situação do país. Esta situação, como é fácil de concluir, será ainda agravada pela politica

de privatizações a saldo em beneficio de estrangeiros levada a cabo pelo governo PSD/CDS com

apoio da “troika estrangeira”. O quadro seguinte completa a análise feita, pois mostra que uma

parte crescente da riqueza produzida anualmente no país (PIB) é transferida para o estrangeiro.

Quadro 4 – PIB e do RNB de Portugal a preços correntes no período 1996-2011

Anos
PIB

Milhões €

Rendimento

Nacional Bruto

(RNB)

Milhões €

% RNB

em

relação

ao PIB

Diferença

RNB-PIB

Milhões

euros

Total de

emprego

Milhares

PIB por

empregado

Euros

RNB por

empregado

Euros

RNB/empregado

(-)

PIB/empregado

- €

1995
87.840,9 88.016,8 100,2% 175,9 4.530,9 19.387 € 19.426 € 39 €

1996
93.216,5 93.213,1 100,0% -3,4 4.606,8 20.235 € 20.234 € -1 €

1997
101.145,9 100.522,9 99,4% -623,0 4.727,5 21.395 € 21.263 € -132 €

1998
110.376,5 109.538,7 99,2% -837,8 4.860,2 22.710 € 22.538 € -172 €

1999
118.661,4 117.489,4 99,0% -1.172,0 4.927,0 24.084 € 23.846 € -238 €

2000
127.316,9 124.681,7 97,9% -2.635,2 5.030,0 25.312 € 24.788 € -524 €

2001
134.471,1 131.036,7 97,4% -3.434,4 5.121,3 26.257 € 25.587 € -671 €

2002
140.566,8 138.320,6 98,4% -2.246,2 5.151,2 27.288 € 26.852 € -436 €

2003
143.471,7 142.089,0 99,0% -1.382,7 5.120,7 28.018 € 27.748 € -270 €

2004
149.312,5 147.723,3 98,9% -1.589,2 5.116,7 29.181 € 28.871 € -311 €

2005
154.268,7 151.980,5 98,5% -2.288,2 5.099,9 30.249 € 29.801 € -449 €

2006
160.855,4 155.999,2 97,0% -4.856,2 5.126,1 31.380 € 30.432 € -947 €

2007
169.319,2 163.945,4 96,8% -5.373,8 5.123,8 33.046 € 31.997 € -1.049 €

2008
171.983,1 165.835,7 96,4% -6.147,4 5.147,2 33.413 € 32.219 € -1.194 €

2009
168.503,6 161.639,2 95,9% -6.864,4 5.014,3 33.605 € 32.236 € -1.369 €

2010
172.669,7 167.047,4 96,7% -5.622,3 4.937,0 34.975 € 33.836 € -1.139 €

2011
171.112,0 165.028,5 96,4% -6.083,5 4.861,2 35.200 € 33.948 € -1.251 €

FONTE: Contas Nacionais Anuais Provisórias - 4º Trim. 2011 - INE

O PIB (Produto Interno Bruto) corresponde ao valor da riqueza criada anualmente no país. O RNB

(Rendimento Nacional Bruto) corresponde à riqueza que, em cada ano, fica no país, e que é

repartida, embora de uma forma cada vez mais desigual, em Portugal. E como revelam os dados

do quadro 4, o valor do RNB é cada vez mais reduzido do que o do PIB. Em 1995, o PIB era

superior ao RNB em 175,9 milhões €, portanto Portugal recebia mais do estrangeiro do que

transferia para o exterior. Em 1996, com a entrada na União Europeia, a situação inverteu-se e

Portugal começou a transferir para o exterior mais do que recebia do exterior, situação que se

agravou com a entrada para a Zona do Euro. Em 2011, segundo o Banco de Portugal, Portugal

transferiu para o exterior mais 6.083,5 milhões € do que recebeu do estrangeiro, o que provocou

que o valor do PIB (o que se produziu nesse ano no país) tenha atingido 171.112 milhões €, mas

o valor do RNB (o que ficou em Portugal) tenha sido apenas de 165.028,5 milhões €. Em 2011, da

riqueza criada por cada por cada português empregado em Portugal, 1.251 € foram transferidos

para o estrangeiro apenas para cobrir este saldo negativo. Produz-se cada vez menos em

Portugal, porque cada vez mais trabalhadores são despedidos e lançados no desemprego, e do

pouco que se produz, uma parte crescente é ainda transferida para o estrangeiro. Eis uma outra

consequência da politica que tem sido seguida em Portugal, agravada ainda mais pela terapia de

choque de austeridade que está a ser imposta pela “troika estrangeira” e pelo governo PSD/CDS,

que tem sido escondida quer por estes “senhores” quer ainda pelos defensores do pensamento

económico neoliberal dominante nos media em Portugal. A criação de um imposto extraordinário

sobre os lucros, mais-valias e juros obtidos em Portugal, mas não investidos no país, é urgente

para combater e reduzir o escândalo desta delapidação de recursos nacionais e descapitalização

do País.

Eugénio Rosa, edr2@netacabo.pt , 22.3.2012 – Dia de Greve Geral

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