terça-feira, 9 de agosto de 2011

Sobre a agricultura e a indústria em Portugal

Dei recentemente uma pequena volta pela Espanha e impressionou-me a abundância de pequenas e médias indústrias, a forma sistemática e metódica de cultivo das terras (apesar da secura de toda a região de Espanha que visitei, Estremadura, Castela e Andaluzia). Quando entrei em Portugal, por Ayamonte, subindo depois pela A2 em direção ao norte, já de noite, foi penoso constatar a escuridão quase permanente que acompanhou a viagem, entrecortada por luzes raras de algumas habitações, só voltando a ser notória a presença humana a partir das cercanias de Setúbal em diante. Estas observações mostram por si só a existência de um desequilíbrio fundamental na gestão do território português, praticamente com o interior desocupado. 

A ausência de uma agricultura firme em Portugal é seguramente uma das razões, se não mesmo a principal, do actual sub-desenvolvimento do nosso país. Sabe-se que o actual estado da agricultura em Portugal se deve a normas comunitárias, pensadas para redesenhar o espectro geopolítico europeu. Não é resultado de decisões inocentes. As grandes civilizações estão associadas a eras de progresso na agricultura e às civilizações prímevas da Mesopotâmia, Indus, Vale do Nilo, Azteca e Inca, e mais perto de nós, as civilizações Grega e Romana.

Ora a agricultura é o sustentáculo de qualquer nação, pois que antes de tudo há que alimentar os seus habitantes. O cultivo da terra exige a fixação das pessoas, no mínimo durante o período da gestação até à colheita, que pode durar meses (no mínimo 90 dias). Durante esse período o homem procura ocupar o seu tempo e é natural que comece a tratar de animais, a colher o seu leite e alimentar e cuidar dos animais recém-nascidos, mantendo estes bem alimentados e entretidos. Para que toda esta actividade se mantenha é necessário construir habitações, estábulos, armazéns, colocar cercas, instalações eléctricas, e hidráulicas, etc. Com o tempo, é fácil compreender que é inevitável o estabelecimento de uma rede mercantil, com alguns construindo casas para outros, trocando materiais e serviços, fabricando móveis e utensílios, mantendo empregos tais como baby-sitters, etc. Esta rede constitui o substrato sobre o qual uma nação se sustém. Não é necessário grandes investimentos, basta uma terra por cultivar. O Estado pode ter um papel importante, por exemplo, financiando ou distribuindo terras que estão em sua posse desocupadas, cedendo-as para cultivo, estimulando a ocupação do território. Pouco mais do que isso. O Estado, como discutirei num artigo próximo, hoje em dia é em muitos aspectos redundante, sendo hoje evidente de que foi apoderado por forças oligárquicas a um nível global. A Bélgica sobrevive faz um ano sem governo... e não se sente falta dele. Aliás, as agências de rating pouco afectaram a sua situação económica.

Está provado que o crescimento dos sectores (regressei à antiga ortografia...) secundário (produtos industriais) e terciário (serviços) dependem do "excesso agrícola", isto é, do excesso de produção de alimentos sobre o consumo dos mesmos pelos seus produtores, aspecto este destacado por Adam Smith, tendo mostrado que a emergência de uma agricultura progressiva esteve na base da revolução industrial. O governo deveria ter um cuidado especial, definindo políticas que favoreçam a emergência de uma agricultura familiar, estudando as formas de implementação de uma agricultura em larga escala, que beneficiará apenas alguns. A industrialização rural ocorre rapidamente quando se estabelece uma agricultura de pequena-escala, que cria oportunidades para a emergência de empresas rurais na área do comércio, indústria e serviços. A agricultura estabelece efeitos retroactivos, tais como a produção de fertilizantes e outros produtos, entre os quais sementes de alta qualidade. Estabelece também ligações para o nível de marketing e processamento de produtos agrícolas, transportes, reparações de materiais agrícolas, consumos de bens duráveis (rádios, televisões, bicicletas, relógios, ...) Por sua vez, a agricultura de larga-escala, promove a industrialização urbana.

Apesar de toda a envolvente técnica, a via agrícola é a mais segura para nos tirar da pobreza, em particular os que mais foram afectados pela governação socialista (!) do JS e dos sicários da "globalização" e que possam dedicar-se a essa actividade. O governo devia ponderar seriamente uma política agrícola para Portugal, sem se deixar submeter aos ditames da Alemanha e Bruxelas, pois falta claramente neste país ideais a alimentar. Um deles é seguramente a autenticidade!

[Abrãao Zacuto]

Sem comentários:

Enviar um comentário