sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Ponto da situação, por Ricardo Araújo Pereira

Ponto da situação

por Ricardo Araújo Pereira na revista visão,

15 de Setembro de 2011

Passos Coelho bem avisou que iria fazer cortes na despesa. Só não disse que era na nossa. A

nossa despesa com alimentação, habitação e transportes está cada vez menor...

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http://aeiou.visao.pt/ponto-da-situacao=f622356#ixzz1hAJj7V97

Os portugueses vivem hoje num país nórdico: pagam impostos como no Norte da

Europa; têm um nível de vida como no Norte de África. Como são um povo ao qual

é difícil agradar, ainda se queixam. Sem razão, evidentemente.

A campanha eleitoral foi dominada por uma metáfora, digamos, dietética: o Estado

era obeso e precisava de emagrecer. Chegava a ser difícil distinguir o tempo de

antena do PSD de um anúncio da Herbalife. "Perca peso orçamental agora! Pergunteme

como!" O problema é que, ao que parece, um Estado gordo é caro, mas um

Estado magro é caríssimo. Aqueles que acusavam o PSD de querer matar o Estado à

fome enganaram-se. O PSD quer engordá-lo antes de o matar, como se faz com o

porco. Ninguém compra um bácoro escanzelado, e quem se prepara para comprar o

Estado também gosta mais de febra do que de osso.

Embora o nutricionismo financeiro seja difícil de compreender, parece-me que

deixámos de ter um Estado obeso e passámos a ter um Estado bulímico.

Pessoalmente, preferia o gordo. Comia bastante mas era bonacheirão e deixava-me o

décimo terceiro mês (o atual décimo segundo mês e meio, ou os décimos terceiros

quinze dias) em paz.

Enfim, será o preço a pagar por viver num país com 10 milhões de milionários.

Talvez o leitor ainda não tenha reparado, mas este é um país de gente rica: cada

português tem um banco e uma ilha. É certo que é o mesmo banco e a mesma ilha,

mas são nossos. Todos os contribuintes são proprietários do BPN e da Madeira. Tal

como sucede com todos os banqueiros proprietários de ilhas, fizemos uma escolha:

estes são luxos caros e difíceis de sustentar. Todos os meses, trabalhamos para

sustentar o banco e a ilha, e depois gastamos o dinheiro que sobra em coisas

supérfluas, como a comida, a renda e a eletricidade.

Felizmente, o governo ajuda-nos a gerir o salário com inteligência. Pedro Passos

Coelho bem avisou que iria fazer cortes na despesa. Só não disse que era na nossa,

mas era previsível. A nossa despesa com alimentação, habitação e transportes está

cada vez menor. Afinal, o orçamento gordo era o nosso. Agora está muito mais

magro, elegante e saudável. Mais sobra para o banco e para a ilha.

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