segunda-feira, 23 de maio de 2011

Carta ao grande povo Alemão


Meu caro povo Alemão,

Compreendo que a Sra. Merkel tenha procurado tranquilizar a vossa preocupação com o destino dado ao pecúlio esforçadamente ganho por todos vós. A ideia geral que os povos do norte da Europa têm sobre os povos do Sul não é, porém, justa. Reconhecemos certamente que algo falhou na nossa evolução enquanto povo, enquanto país (ou melhor, reconhecemos hoje, como uma "espécie de país"). Pagamos assim ingloriamente o termo-nos permitido ser governados por gente canalha, sem preparação para governar, sem esse propósito sequer (ó, se assim fosse...).

Acreditem que queremos reconquistar a nossa dignidade, mas para tal conseguirmos descomunais obstáculos se interpõem no nosso caminho: teremos que conceber um novo sistema político; depurar os instrumentos de poder da gente incapaz que lá está por compadrio, incompetente e maldosa. É quanto basta para mudar Portugal.

Para que acreditem na sinceridade do que aqui vos digo, convido-vos, grande povo alemão, a trocarmos de postos de trabalho durante (apenas) um mês. Vocês vêm para cá, ocupam as nossos lugares, sob a orientação das nossas chefias, dos nossos “líderes”. E nós fazemos o mesmo, indo trabalhar durante esse mês de provação, sob o olhar atento dos vossos “chefes”. Nós, Portugueses, sentiremos uma alívio enorme longe de gente sem carácter nem formação. E vocês, quando comentarem sobre Portugal, certamente melhor nos compreenderão, conhecerão as raízes do mal.

Durante esse mês poderão tentar conhecer os nossos "chefes", os nossos “líderes”, o que eles pensam da vida, o respeito que nutrem pelas pessoas (nenhum, não sabem o que isso é), o respeito que mostram ter pelo trabalho (e sem dificuldade compreenderão porque querem eles serem chefes...), qual a sua preparação profissional (incompetência generalizada), a sua arrogância (escondendo conscientemente com essa atitude toda a sua fraude), como são organizados os concursos para admissão de pessoal e para progressão na carreira (uma vergonha criminosa), ou a recompensa que dão a quem se esforça (não matam com um tiro, são mais sofisticados, simplesmente deixam apodrecer quem não pertence à “pandilha”). E o que fazem aos talentos? Aos génios que poderiam erguer este pobre país? Só para vos dar alguns exemplos chocantes: 1) Bento de Moura Portugal, segundo um dos vossos grandes cientistas, o cientista alemão Osterrieder, que escreveu textualmente:

... "depois do grande Newton em Inglaterra, só Bento de Moura em Portugal.!"

Pois “apodreceu” na prisão porque os nossos “líderes” não suportavam a inveja que sentiam por ele. 2) o nosso grande poeta, Luis Vaz de Camões, termina a ode a este pequeno grande país com a palavra "inveja." Morreu na miséria; 3) Fernando Pessoa, morreu de cirrose hepática relativamente novo, publicou em vida apenas dois livros, a obra desconhecida até há relativamente pouco tempo. As últimas palavras que escreveu foram em Inglês «I know not what future will bring...» (O que isto quererá dizer?...)

Com a crise de 1383 o país entendeu que “navegar é preciso", e debandámos pelo mundo fora, pois a fome era tanta...Foram os Descobrimentos.

Por todos estes factos históricos e alguma sofrida reflexão, acredito que o governo deste país se mostre incapaz num dado momento de resolver a profunda e trágica crise. Porque vejam bem, o dinheiro que aí vem da colecta feita no vossos país, do FMI, etc, irá directo para os bolsos sujos dos nossos corruptos. Eles continuam aí, à frente dos ministérios, das grandes empresas, controlam a comunicação social, usam os nossos impostos para se sustentarem e reduzirem à miséria um povo por demais sofrido.  Nada mudou nem mudará sem a grande mudança que este pequeno Portugal tanto necessita. Se procurarmos seguir um raciocínio lógico, como poderemos acreditar em mudança, que esta crise não fica por aí, eternamente, tal como existe há pelo menos 300 anos. Temos que nos livrar desta corrupta sacanagem que tanta vileza tem trazido. E só do estrangeiro nos poderá vir essa salvação moral...Talvez aí nos possam (verdadeiramente) ajudar.

E não, não julguem que só na Sicília é que há a Máfia organizada. Em Portugal a Máfia tem uma sofisticação tal que nem dela se chega a falar na comunicação social. Este país é dirigido por máfias organizadas faz alguns séculos. A Revolução dos Cravos apenas agravou o fenómeno. Este conclave da Europa é gerido por um pequeno grupo de famílias, organizado numa pirâmide que chega até às pequenas tribos familiares, que fazem o trabalho mais sujo, aparecem nos jornais, são ocasionalmente difamados por processos de corrupção que não são resolvidos, ficando todos, no final e depois de um bruto desgaste do erário público, numa impunidade total. Para cúmulo, este conclave tem sido dirigido por um partido que se proclama Partido Socialista, um exemplo vivo de autêntica usurpação de ideais, se é que eles sabem o que é um ideal. Vocês compreenderão facilmente este fenómeno, pois também tiveram um partido nacional-socialista, que tanta desgraça vos trouxe (embora ocasionalmente se ouçam algumas almas perdidas saudarem Heil Hitler, acreditando que esse ideal tenha sucumbido em 1945...basta reflectir um pouco para nos darmos conta que não, que ele foi apenas apoderado por outras mãos).

Por hoje é tudo.

Deste vosso grande admirador,

Abrão Zacuto

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