quinta-feira, 25 de setembro de 2014

O Império dos idiotas - texto de António Ribeiro

Quando ontem cheguei ao Face dei de caras com um largo conjunto de posts, indignados uns, apoiantes outros, relativos à decisão da Câmara Municipal de Lisboa de não restaurar, no Jardim da Praça do Império, em Lisboa, os símbolos criados durante o Estado Novo e respeitantes às colónias.
Na linha da frente da oposição à recuperação desses símbolos encontra-se – de resto outra coisa não seria de esperar – o Vereador José Sá Fernandes.
Segundo comunicado da CML publicado no seu site, o município não irá gastar dinheiro a recuperar símbolos do Estado Novo.
O comunicado só pode ter sido escrito por alguém com um qualquer atrofio mental.
Antes de mais, o património não tem ideologia.
Se os idiotas por trás desta decisão estão tão preocupados com o facto de serem símbolos do Estado Novo então, por uma questão de coerência, devem demolir toda a zona histórica de Lisboa porque, se formos a ver, foi toda construída quando existia, por exemplo e entre outras coisas, escravatura, religião de Estado e intolerância religiosa, gente a morrer de fome, execuções sumárias e pena de morte e, como durante o Estado Novo, Colónias.
Aliás, se Sá Fernandes e os idiotas que estão com ele tivessem uma réstia de cérebro a funcionar, teriam percebido que a zona se chama “Praça do Império” e foi criada – imagine-se – pelo Estado Novo.
Mais.
Se querem ser coerentes com o chorrilho de estupidez que largaram sobre isto, então tinham a obrigação de destruir o Padrão dos Descobrimentos, construído durante o Estado Novo, por alturas da Grande Exposição do Mundo Português, destruir a zona ribeirinha de Belém, construída durante o Estado Novo, para o mesmo evento, a zona de pequenas marinas da zona ribeirinha de Belém, construída durante o Estado Novo… e por aí fora…
A História não se recusa.
Nem pode.
A nossa história, doa a quem doer, é a história de um Império.
Fomos um Império desde o Século XV até ao Século XX.
Dominámos outros povos, escravizámo-los, explorámo-los.
Enriquecemos e empobrecemos.
Ajudámos e matámos.
É assim a história dos Impérios.
É assim a nossa história.
Quem tem vergonha da sua história tem, em última análise, vergonha de si.
E nós podemos – e devemos – ter vergonha da cambada que nos governa e de darmos demasiada atenção ao futebol, mas não devemos ter vergonha da nossa história.
Quando idiotas não querem recuperar símbolos históricos porque acham que isso os faz ficar bem na fotografia de uma minoria de outros idiotas, está mais ou menos tudo dito.
António Costa faria melhor se viesse pôr na ordem a Câmara de que ainda é presidente.
 

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