Contribuições para um Portugal com futuro: A nossa abordagem não deve ser lutar contra essas pessoas, porque elas são poderosas, têm exércitos, têm dinheiro, têm tudo. Não podemos lutar contra elas, usando as suas armas: a mentira e a violência. Seríamos destruídos. O caminho mais seguro reside em começarmos a desenvolver silenciosamente a nossa própria consciência, e sobretudo a dos nossos jovens, o que nenhuma força pode impedir. Este blog discorda ortograficamente.
quarta-feira, 29 de maio de 2013
segunda-feira, 27 de maio de 2013
O silva das vacas-texto de Luís Manuel Cunha
O Silva das vacas
Algumas das reminiscências da minha escola primária têm a ver com vacas. Porque a D.ª Albertina, a professora, uma mulher escalavrada e seca, mais mirrada que uva-passa, tinha um inexplicável fascínio por vacas. Primavera e vacas. De forma que, ora mandava fazer redacções sobre a primavera, ora se fixava na temática da vaca. A vaca era, assim, um assunto predilecto e de desenvolvimento obrigatório, o que, pela sua recorrência, se tornava insuportavelmente repetitivo. Um dia, o Zeca da Maria "gorda", farto de escrever que a vaca era um mamífero vertebrado, quadrúpede ruminante e muito amigo do homem a quem ajudava no trabalho e a quem fornecia leite e carne, blá, blá, blá, decidiu, num verdadeiro impulso de rebelião criativa, explicar a coisa de outra forma.
E, se bem me lembro ainda, escreveu mais ou menos isto:
"A vaca, tal como alguns homens, tem quatro patas, duas à frente, duas atrás, duas à direita e duas à esquerda. A vaca é um animal cercado de pêlos por todos os lados, ao contrário da península que só não é cercada por um. O rabo da vaca não lhe serve para extrair o leite, mas para enxotar as moscas e espalhar a bosta. Na cabeça, a vaca tem dois cornos pequenos e lá dentro tem mioleira, que o meu pai diz que faz muito bem à inteligência e, por não comer mioleira, é que o padre é burro como um tamanco. Diz o meu pai e eu concordo, porque, na doutrina, me obriga a saber umas merdas de que não percebo nada como as bem-aventuranças. A vaca dá leite por fora e carne por dentro, embora agora as vacas já não façam tanta falta, porque foi descoberto o leite em pó. A vaca é um animal triste todo o ano, excepto no dia em que vai ao boi, disse-me o pai do Valdemar "pauzinho", que é dono do boi onde vão todas as vacas da freguesia. Um dia perguntei ao meu pai o que era isso da vaca ir ao boi e levei logo um estalo no focinho. O meu pai também diz que a mulher do regedor é uma vaca e eu também não entendi. Mas, escarmentado, já nem lhe perguntei se ela também ia ao boi."
Foi assim. Escusado será dizer que a D.ª Albertina, pouco dada a brincadeiras criativas, afinfou no pobre do Zeca um enxerto de porrada a sério. Mas acabou definitivamente com a vaca como tema de redacção.
Recordei-me desta história da D.ª Albertina e da vaca do Zeca da Maria "gorda", ao ler que Cavaco Silva, presidente da República desta vacaria indígena, em visita oficial ao Açores, saiu-se a certa altura com esta pérola vacum: "Ontem eu reparava no sorriso das vacas, estavam satisfeitíssimas olhando o pasto que começava a ficar verdejante"! Este homem, que se deixou rodear, no governo, pelo que viria a ser a maior corja de gatunos que Portugal politicamente produziu; este homem, inculto e ignorante, cuja cabeça é comparada metaforicamente ao sexo dos anjos; este político manhoso que sentiu necessidade de afirmar publicamente que tem de nascer duas vezes quem seja mais honesto que ele; este "cagarola" que foi humilhado por João Jardim e ficou calado; este homem que, desgraçadamente, foi eleito presidente da República de Portugal, no momento em que a miséria e a fome grassam pelo país, em que o desemprego se torna incontrolável, em que os pobres são miseravelmente espoliados a cada dia que passa, este homem, dizia, não tem mais nada para nos mostrar senão o fascínio pelo “sorriso das vacas", satisfeitíssimas olhando o pasto que começava a ficar verdejante"! Satisfeitíssimas, as vacas?! Logo agora, em tempos de inseminação artificial, em que as desgraçadas já nem sequer
dispõem da felicidade de "ir ao boi", ao menos uma vez cada ano!
Noticiava há dias o Expresso que, há mais ou menos um ano e aquando de uma visita a uma exploração agrícola no âmbito do Roteiro da Juventude, Cavaco se confessou "surpreendidíssimo por ver que as vacas, umas atrás das outras, se encostavam ao robô e se sentiam deliciadas enquanto ele, durante seis ou sete minutos, realizava a ordenha"! Como se fosse possível alguma vaca poder sentir-se deliciada ao passar seis ou sete minutos com um robô a espremer-lhe as tetas!!
Não sei se o fascínio de Cavaco por vacas terá ou não uma explicação freudiana. É possível. Porque este homem deve julgar-se o capataz de uma imensa vacaria, metáfora de um país chamado Portugal, onde há meia-dúzia de "vacas sagradas", essas sim com direito a atendimento personalizado pelo "boi", enquanto as outras são inexoravelmente "ordenhadas"! Sugadas sem piedade, até que das tetas não escorra mais nada e delas não reste senão peles penduradas, mirradas e sem proveito.
A este "Américo Tomás do século XXI" chamou um dia João Jardim, o "sr. Silva". Depreciativamente, conforme entendimento generalizado. Creio
que não. Porque este homem deveria ser simplesmente "o Silva". O Silva das vacas. Presidente da República de Portugal. Desgraçadamente.
Luís Manuel Cunha in «Jornal de Barcelos», 5 de Outubro, 2011.
Algumas das reminiscências da minha escola primária têm a ver com vacas. Porque a D.ª Albertina, a professora, uma mulher escalavrada e seca, mais mirrada que uva-passa, tinha um inexplicável fascínio por vacas. Primavera e vacas. De forma que, ora mandava fazer redacções sobre a primavera, ora se fixava na temática da vaca. A vaca era, assim, um assunto predilecto e de desenvolvimento obrigatório, o que, pela sua recorrência, se tornava insuportavelmente repetitivo. Um dia, o Zeca da Maria "gorda", farto de escrever que a vaca era um mamífero vertebrado, quadrúpede ruminante e muito amigo do homem a quem ajudava no trabalho e a quem fornecia leite e carne, blá, blá, blá, decidiu, num verdadeiro impulso de rebelião criativa, explicar a coisa de outra forma.
E, se bem me lembro ainda, escreveu mais ou menos isto:
"A vaca, tal como alguns homens, tem quatro patas, duas à frente, duas atrás, duas à direita e duas à esquerda. A vaca é um animal cercado de pêlos por todos os lados, ao contrário da península que só não é cercada por um. O rabo da vaca não lhe serve para extrair o leite, mas para enxotar as moscas e espalhar a bosta. Na cabeça, a vaca tem dois cornos pequenos e lá dentro tem mioleira, que o meu pai diz que faz muito bem à inteligência e, por não comer mioleira, é que o padre é burro como um tamanco. Diz o meu pai e eu concordo, porque, na doutrina, me obriga a saber umas merdas de que não percebo nada como as bem-aventuranças. A vaca dá leite por fora e carne por dentro, embora agora as vacas já não façam tanta falta, porque foi descoberto o leite em pó. A vaca é um animal triste todo o ano, excepto no dia em que vai ao boi, disse-me o pai do Valdemar "pauzinho", que é dono do boi onde vão todas as vacas da freguesia. Um dia perguntei ao meu pai o que era isso da vaca ir ao boi e levei logo um estalo no focinho. O meu pai também diz que a mulher do regedor é uma vaca e eu também não entendi. Mas, escarmentado, já nem lhe perguntei se ela também ia ao boi."
Foi assim. Escusado será dizer que a D.ª Albertina, pouco dada a brincadeiras criativas, afinfou no pobre do Zeca um enxerto de porrada a sério. Mas acabou definitivamente com a vaca como tema de redacção.
Recordei-me desta história da D.ª Albertina e da vaca do Zeca da Maria "gorda", ao ler que Cavaco Silva, presidente da República desta vacaria indígena, em visita oficial ao Açores, saiu-se a certa altura com esta pérola vacum: "Ontem eu reparava no sorriso das vacas, estavam satisfeitíssimas olhando o pasto que começava a ficar verdejante"! Este homem, que se deixou rodear, no governo, pelo que viria a ser a maior corja de gatunos que Portugal politicamente produziu; este homem, inculto e ignorante, cuja cabeça é comparada metaforicamente ao sexo dos anjos; este político manhoso que sentiu necessidade de afirmar publicamente que tem de nascer duas vezes quem seja mais honesto que ele; este "cagarola" que foi humilhado por João Jardim e ficou calado; este homem que, desgraçadamente, foi eleito presidente da República de Portugal, no momento em que a miséria e a fome grassam pelo país, em que o desemprego se torna incontrolável, em que os pobres são miseravelmente espoliados a cada dia que passa, este homem, dizia, não tem mais nada para nos mostrar senão o fascínio pelo “sorriso das vacas", satisfeitíssimas olhando o pasto que começava a ficar verdejante"! Satisfeitíssimas, as vacas?! Logo agora, em tempos de inseminação artificial, em que as desgraçadas já nem sequer
dispõem da felicidade de "ir ao boi", ao menos uma vez cada ano!
Noticiava há dias o Expresso que, há mais ou menos um ano e aquando de uma visita a uma exploração agrícola no âmbito do Roteiro da Juventude, Cavaco se confessou "surpreendidíssimo por ver que as vacas, umas atrás das outras, se encostavam ao robô e se sentiam deliciadas enquanto ele, durante seis ou sete minutos, realizava a ordenha"! Como se fosse possível alguma vaca poder sentir-se deliciada ao passar seis ou sete minutos com um robô a espremer-lhe as tetas!!
Não sei se o fascínio de Cavaco por vacas terá ou não uma explicação freudiana. É possível. Porque este homem deve julgar-se o capataz de uma imensa vacaria, metáfora de um país chamado Portugal, onde há meia-dúzia de "vacas sagradas", essas sim com direito a atendimento personalizado pelo "boi", enquanto as outras são inexoravelmente "ordenhadas"! Sugadas sem piedade, até que das tetas não escorra mais nada e delas não reste senão peles penduradas, mirradas e sem proveito.
A este "Américo Tomás do século XXI" chamou um dia João Jardim, o "sr. Silva". Depreciativamente, conforme entendimento generalizado. Creio
que não. Porque este homem deveria ser simplesmente "o Silva". O Silva das vacas. Presidente da República de Portugal. Desgraçadamente.
Luís Manuel Cunha in «Jornal de Barcelos», 5 de Outubro, 2011.
Um PSD evoca Brecht
[Este texto circula nas redes sociais e desconheço a autoria. Se alguém souber, por favor, informe-me.AZ]
Os silêncios...
Um PSD evoca Brecht
Um dia bateram-me à porta e anunciaram-me que o governo tinha decidido cortar-me meio subsidio de Natal. Apesar de inconstitucional, compreendi o sacrifício que o Governo me pedia.
Noutro dia bateram à porta do meu pai e anunciaram-lhe que iam cortar meia pensão do Natal. Apesar de considerar que era um roubo, ainda admiti, porque o pais estava em estado de emergência.
Depois bateram-me à porta e anunciaram que me iam tirar dois meses de salário e dois meses de pensão ao meu pai. Depois da estupefacção resignação.
A 7 de Setembro, bateram-me à porta para me anunciar que tiravam 7% do salário para dar 5,75% ao patrão e ficavam com os trocos, em principio para os cofres da Segurança Social.
Desta vez fiquei indignado. Achei que estava a ser roubado e que estavam a transformar os patrões em receptadores do dinheiro roubado. Em reacção, corri para a rua para protestar.
Bateram-me mais uma vez à porta e informaram-me de que o ministro das finanças ia reescalonar as taxas de IRS, de modo a torna-lo mais progressivo.
Imaginando que iam poupar os rendimentos mais baixos e taxar fortemente os mais altos, pensei que o Governo, finalmente, voltava ao trilho da lei.
Mas para surpresa minha, voltaram a bater-me à porta para me ameaçarem com aumentos brutais no IMI. A minha indignação transformou-se em ira e juntei-me ao movimento nacional de resistentes ao pagamento do IMI.
Ainda mal refeito do choque do IMI, bateram-me novamente à porta para me mostrarem nos jornais, em grandes parangonas e cinco colunas, os novos escalões de IRS. Afinal aumentaram as taxas dos rendimentos mais baixos, menos os dos mais altos e não criaram nenhum escalão para os mais ricos. E a progressividade do rei dos impostos diminuiu. A minha raiva subiu de tom e resolvi não mais votar a votar no PSD e estou preparado para qualquer acção revolucionária que apareça. Ao fim e ao cabo eu o meu pai e a minha família já não temos nada a perder.
J. Nunes de Almeida, Ericeira
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Pese embora a possibilidade de alguns poderem relevar algumas imprecisões do escrito, pesa muito mais a publica tomada de posição.
E na oportunidade poderá interessar recordar um dos motivos porque Brecht é citado em titulo; mas não apenas ele
- Maiakovski, poeta russo escreveu, no início do século XX :
Na primeira noite, eles se aproximam
e colhem uma flor de nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite,
já não se escondem,
pisam as flores, matam nosso cão.
E não dizemos nada.
Até que um dia, o mais frágil deles,
entra sozinho em nossa casa, rouba-nos a lua,
e, conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E porque não dissemos nada,
já não podemos dizer nada.
Maiakovski (1893-1930)
e colhem uma flor de nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite,
já não se escondem,
pisam as flores, matam nosso cão.
E não dizemos nada.
Até que um dia, o mais frágil deles,
entra sozinho em nossa casa, rouba-nos a lua,
e, conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E porque não dissemos nada,
já não podemos dizer nada.
Maiakovski (1893-1930)
- Depois Bertold Brecht escreveu:
Primeiro levaram os negros
Mas não me importei com isso
Eu não era negro
Em seguida levaram alguns operários
Mas não me importei com isso
Eu também não era operário
Depois prenderam os miseráveis
Mas não me importei com isso
Porque eu não sou miserável
Depois agarraram uns desempregados
Mas como tenho meu emprego
Também não me importei
Agora estão me levando
Mas já é tarde.
Como eu não me importei com ninguém
Ninguém se importa comigo.
Bertold Brecht (1898-1956)
Mas não me importei com isso
Eu não era negro
Em seguida levaram alguns operários
Mas não me importei com isso
Eu também não era operário
Depois prenderam os miseráveis
Mas não me importei com isso
Porque eu não sou miserável
Depois agarraram uns desempregados
Mas como tenho meu emprego
Também não me importei
Agora estão me levando
Mas já é tarde.
Como eu não me importei com ninguém
Ninguém se importa comigo.
Bertold Brecht (1898-1956)
- Em 1933 Martin Niemöller criou o seguinte poema:
Um dia vieram e levaram meu vizinho que era judeu.
Como não sou judeu, não me incomodei.
No dia seguinte, vieram e levaram
meu outro vizinho que era comunista.
Como não sou comunista, não me incomodei ..
No terceiro dia vieram e levaram meu vizinho católico.
Como não sou católico, não me incomodei.
No quarto dia, vieram e me levaram;
já não havia mais ninguém para reclamar…
Martin Niemöller,(1892-1984)– símbolo da resistência aos nazistas.
Como não sou judeu, não me incomodei.
No dia seguinte, vieram e levaram
meu outro vizinho que era comunista.
Como não sou comunista, não me incomodei ..
No terceiro dia vieram e levaram meu vizinho católico.
Como não sou católico, não me incomodei.
No quarto dia, vieram e me levaram;
já não havia mais ninguém para reclamar…
Martin Niemöller,(1892-1984)– símbolo da resistência aos nazistas.
- Em 2007 Cláudio Humberto presenteou-nos assim:
Primeiro eles roubaram nos sinais, mas não fui eu a vítima,
Depois incendiaram os ônibus, mas eu não estava neles;
Depois fecharam ruas, onde não moro;
Fecharam então o portão da favela, que não habito;
Em seguida arrastaram até a morte uma criança, que não era meu filho…
Cláudio Humberto, em 09 Fevereiro de 2007
Depois incendiaram os ônibus, mas eu não estava neles;
Depois fecharam ruas, onde não moro;
Fecharam então o portão da favela, que não habito;
Em seguida arrastaram até a morte uma criança, que não era meu filho…
Cláudio Humberto, em 09 Fevereiro de 2007
- Também Martin Luther King (1929.1968):
O que mais me preocupa não é nem o grito dos violentos, dos corruptos, dos desonestos, dos sem carácter, dos sem ética… o que mais me preocupa é o silêncio dos bons!.
O Triumfo dos Porcos-texto de Henrique Monteiro
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O Adjuntivo Marques Mendes-texto de Clara Ferreira Alves
Vale a pena ler este texto da Clara Ferreira Alves, que foi publicado no Jornal Expresso.
Leia aqui.
Leia aqui.
sexta-feira, 24 de maio de 2013
Provavelmente a maior "doença mental" em Portugal!
Na minha vida profissional, lido com pessoas de vários níveis de conhecimentos e de cultura. Entre os meus colegas, professores e investigadores, encontram-se indivíduos verdadeiramente extraordinários. Porém, em todo o país, o que constato é que em dada altura da nossa história deve ter havido um complot bem-sucedido perpetrado pelos mais rudes, brutos, mal-informados e mal-intencionados desta nação.
A partir desse momento, a evolução subsequente do país foi sempre feita com base na selecção que esses "líderes" do histórico "putsch" (usando agora uma palavra de origem alemã numa era da europa alemã) foram fazendo sistematicamente. As características escolhidas eram cruciais:
-obediência cega;
-maneira de ser bem-comportada;
-falta de imaginação ou ocultação voluntariosa das qualidades (levando à sua perda ao fim de algum tempo de relaxação);
-brutalidade;
-ética nenhuma.
É uma situação de total endogamia, para onde só entram e (não) têm palavra os seus iguais!
Em consequência deste fenómeno hediondo mas facilmente explicável e perceptível, não se encontram personalidades à altura da crise histórica que atravessamos enquanto singular nação europeia, não temos políticos minimamente decentes e preparados (para além de terem que ser abolidos em termos de "classe", a tal "classe política" que urge abolir pois é a causa dos nossos males).
Bem dizia o Francisco José Viegas, que temos uma elite medíocre. Ah, pois não! foi toda ela formatada para o ser...
AZ
A partir desse momento, a evolução subsequente do país foi sempre feita com base na selecção que esses "líderes" do histórico "putsch" (usando agora uma palavra de origem alemã numa era da europa alemã) foram fazendo sistematicamente. As características escolhidas eram cruciais:
-obediência cega;
-maneira de ser bem-comportada;
-falta de imaginação ou ocultação voluntariosa das qualidades (levando à sua perda ao fim de algum tempo de relaxação);
-brutalidade;
-ética nenhuma.
É uma situação de total endogamia, para onde só entram e (não) têm palavra os seus iguais!
Em consequência deste fenómeno hediondo mas facilmente explicável e perceptível, não se encontram personalidades à altura da crise histórica que atravessamos enquanto singular nação europeia, não temos políticos minimamente decentes e preparados (para além de terem que ser abolidos em termos de "classe", a tal "classe política" que urge abolir pois é a causa dos nossos males).
Bem dizia o Francisco José Viegas, que temos uma elite medíocre. Ah, pois não! foi toda ela formatada para o ser...
AZ
segunda-feira, 20 de maio de 2013
Um artigo do psiquiatra Pedro Afonso sobre a saúde mental dos portugueses
Artigo de Pedro Afonso - Médico psiquiatra...
Digno de ser Lido !!!
Transcrição do artigo do médico psiquiatra Pedro Afonso, publicado no Público
Alguns dedicam-se obsessivamente aos números e às estatísticas esquecendo que a sociedade é feita de pessoas. Recentemente, ficámos a saber, através do primeiro estudo epidemiológico nacional de Saúde Mental, que Portugal é o país da Europa com a maior prevalência de doenças mentais na população. No último ano, um em cada cinco portugueses sofreu de uma doença psiquiátrica (23%) e quase metade (43%) já teve uma destas perturbações durante a vida. Interessa-me a saúde mental dos portugueses porque assisto com impotência a uma sociedade perturbada e doente em que violência, urdida nos jogos e na televisão, faz parte da ração diária da crianças e adolescentes. Neste redil de insanidade, vejo jovens infantilizados incapazes de construírem um projecto de vida, escravos dos seus insaciáveis desejos e adulados por pais que satisfazem todos os seus caprichos, expiando uma culpa muitas vezes imaginária. Na escola, estes jovens adquiriram um estatuto de semideus, pois todos terão de fazer um esforço sobrenatural para lhes imprimirem a vontade de adquirir conhecimentos, ainda que estes não o desejem. É natural que assim seja, dado que a actual sociedade os inebria de direitos, criando-lhes a ilusão absurda de que podem ser mestres de si próprios. Interessa-me a saúde mental dos portugueses porque, nos últimos quinze anos, o divórcio quintuplicou, alcançando 60 divórcios por cada 100 casamentos (dados de 2008). As crises conjugais são também um reflexo das crises sociais. Se não houver vínculos estáveis entre seres humanos não existe uma sociedade forte, capaz de criar empresas sólidas e fomentar a prosperidade. Enquanto o legislador se entretém maquinalmente a produzir leis que entronizam o divórcio sem culpa, deparo-me com mulheres compungidas, reféns do estado de alma dos ex-cônjuges para lhes garantirem o pagamento da miserável pensão de alimentos. Interessa-me a saúde mental dos portugueses porque se torna cada vez mais difícil, para quem tem filhos, conciliar o trabalho e a família. Nas empresas, os directores insanos consideram que a presenç prolongada no trabalho é sinónimo de maior compromisso e produtividade. Portanto é fácil perceber que, para quem perde cerca de três horas nas deslocações diárias entre o trabalho, a escola e a casa, seja difícil ter tempo para os filhos. Recordo o rosto de uma mãe marejado de lágrimas e com o coração dilacerado por andar tão cansada que quase se tornou impossível brincar com o seu filho de três anos. Interessa-me a saúde mental dos portugueses porque a taxa de desemprego em Portugal afecta mais de meio milhão de cidadãos. Tenho presenciado muitos casos de homens e mulheres que, humilhados pela falta de trabalho, se sentem rendidos e impotentes perante a maldição da pobreza. Observo as suas mãos, calejadas pelo trabalho manual, tornadas inúteis, segurando um papel encardido da Segurança Social. Interessa-me a saúde mental dos portugueses porque é difícil aceitar que alguém sobreviva dignamente com pouco mais de 600 euros por mês, enquanto outros, sem mérito e trabalho, se dedicam impunemente à actividade da pilhagem do erário público. Fito com assombro e complacência os olhos de revolta daqueles que estão cansados de escutar repetidamente que é necessário fazer mais sacrifícios quando já há muito foram dizimados pela praga da miséria. Finalmente, interessa-me a saúde mental de alguns portugueses com responsabilidades governativas porque se dedicam obsessivamente aos números e às estatísticas esquecendo que a sociedade é feita de pessoas. Entretanto, com a sua displicência e inépcia, construíram um mecanismo oleado que vai inexoravelmente triturando as mentes sãs de um povo, criando condições sociais que favorecem uma decadência neuronal colectiva, multiplicando, deste modo, as doenças mentais. E hesito em prescrever antidepressivos e ansiolíticos a quem tem o estômago vazio e a cabeça cheia de promessas de uma justiça que se há-de concretizar; e luto contra o demónio do desespero, mas sinto uma inquietação culposa diante destes rostos que me visitam diariamente. Pedro Afonso Médico psiquiatra _
Digno de ser Lido !!!
Transcrição do artigo do médico psiquiatra Pedro Afonso, publicado no Público
Alguns dedicam-se obsessivamente aos números e às estatísticas esquecendo que a sociedade é feita de pessoas. Recentemente, ficámos a saber, através do primeiro estudo epidemiológico nacional de Saúde Mental, que Portugal é o país da Europa com a maior prevalência de doenças mentais na população. No último ano, um em cada cinco portugueses sofreu de uma doença psiquiátrica (23%) e quase metade (43%) já teve uma destas perturbações durante a vida. Interessa-me a saúde mental dos portugueses porque assisto com impotência a uma sociedade perturbada e doente em que violência, urdida nos jogos e na televisão, faz parte da ração diária da crianças e adolescentes. Neste redil de insanidade, vejo jovens infantilizados incapazes de construírem um projecto de vida, escravos dos seus insaciáveis desejos e adulados por pais que satisfazem todos os seus caprichos, expiando uma culpa muitas vezes imaginária. Na escola, estes jovens adquiriram um estatuto de semideus, pois todos terão de fazer um esforço sobrenatural para lhes imprimirem a vontade de adquirir conhecimentos, ainda que estes não o desejem. É natural que assim seja, dado que a actual sociedade os inebria de direitos, criando-lhes a ilusão absurda de que podem ser mestres de si próprios. Interessa-me a saúde mental dos portugueses porque, nos últimos quinze anos, o divórcio quintuplicou, alcançando 60 divórcios por cada 100 casamentos (dados de 2008). As crises conjugais são também um reflexo das crises sociais. Se não houver vínculos estáveis entre seres humanos não existe uma sociedade forte, capaz de criar empresas sólidas e fomentar a prosperidade. Enquanto o legislador se entretém maquinalmente a produzir leis que entronizam o divórcio sem culpa, deparo-me com mulheres compungidas, reféns do estado de alma dos ex-cônjuges para lhes garantirem o pagamento da miserável pensão de alimentos. Interessa-me a saúde mental dos portugueses porque se torna cada vez mais difícil, para quem tem filhos, conciliar o trabalho e a família. Nas empresas, os directores insanos consideram que a presenç prolongada no trabalho é sinónimo de maior compromisso e produtividade. Portanto é fácil perceber que, para quem perde cerca de três horas nas deslocações diárias entre o trabalho, a escola e a casa, seja difícil ter tempo para os filhos. Recordo o rosto de uma mãe marejado de lágrimas e com o coração dilacerado por andar tão cansada que quase se tornou impossível brincar com o seu filho de três anos. Interessa-me a saúde mental dos portugueses porque a taxa de desemprego em Portugal afecta mais de meio milhão de cidadãos. Tenho presenciado muitos casos de homens e mulheres que, humilhados pela falta de trabalho, se sentem rendidos e impotentes perante a maldição da pobreza. Observo as suas mãos, calejadas pelo trabalho manual, tornadas inúteis, segurando um papel encardido da Segurança Social. Interessa-me a saúde mental dos portugueses porque é difícil aceitar que alguém sobreviva dignamente com pouco mais de 600 euros por mês, enquanto outros, sem mérito e trabalho, se dedicam impunemente à actividade da pilhagem do erário público. Fito com assombro e complacência os olhos de revolta daqueles que estão cansados de escutar repetidamente que é necessário fazer mais sacrifícios quando já há muito foram dizimados pela praga da miséria. Finalmente, interessa-me a saúde mental de alguns portugueses com responsabilidades governativas porque se dedicam obsessivamente aos números e às estatísticas esquecendo que a sociedade é feita de pessoas. Entretanto, com a sua displicência e inépcia, construíram um mecanismo oleado que vai inexoravelmente triturando as mentes sãs de um povo, criando condições sociais que favorecem uma decadência neuronal colectiva, multiplicando, deste modo, as doenças mentais. E hesito em prescrever antidepressivos e ansiolíticos a quem tem o estômago vazio e a cabeça cheia de promessas de uma justiça que se há-de concretizar; e luto contra o demónio do desespero, mas sinto uma inquietação culposa diante destes rostos que me visitam diariamente. Pedro Afonso Médico psiquiatra _
terça-feira, 14 de maio de 2013
Por onde andam os HOMENS deste país?
[Texto original de Miguel Sousa Tavares, ler aqui.]
Por onde andam os HOMENS deste País?
Já suportámos tudo a Vítor Gaspar: nove trimestres consecutivos de previsões sucessivamente falhadas; erros de avaliação de uma incompetência chocante; subidas de impostos que conseguiram o milagre de fazer cair a receita fiscal; meio milhão de novos desempregados em menos de dois anos e milhares de empresas chutadas para a falência; cortes cegos em tudo o que estava em marcha para mudar o nosso paradigma de país subdesenvolvido — como a aposta na investigação, na ciência, nas novas tecnologias, nas energias alternativas; um despudor e uma arrogância a corrigir os erros cometidos com novos erros idênticos, que, mais do que teimosia e obstinação suicidarias, revelam sim o desespero de um ditador intelectual perdido no labirinto da sua ignorância. Gaspar não sabe como sair do desastre em que nos meteu e, como um timoneiro de uma nave em rota de perdição, ele já não vê nem passageiros nem carga, ou empregos e vidas a salvar: prefere que o navio se afunde com todos a bordo e ele ao leme. Sem sobreviventes nem testemunhas.
Vendo-o na sua última aparição pública, a dar conta das linhas orientadoras do DEO, percebi que ele já não tem rumo nem bússola. Nem sequer tem linhas orientadoras da estratégia orçamental ou do que quer que seja. Apenas tem um número, que, aliás, vai sucessivamente engrossando à medida que o desastre se vai tomando cada dia mais nítido: 1,3 mil milhões, 4 mil milhões, 6,5 mil milhões. Cada nova previsão falhada, cada novo erro de avaliação por ele cometido, tem como consequência, não um pedido de desculpas ou a promessa de se render e arrepiar caminho, mas antes a ameaça de mais e mais sacrifícios sobre uma economia e um povo exauridos. Afinal, anuncia ele agora, a recessão não vai inverter-se no final deste ano, como previra, mas só lá para 2015 ou 16; afinal, o "desemprego ainda vai subir antes de começar a descer" daqui a uns dois anos, talvez; afinal, a "sustentabilidade das contas públicas", que nos diziam iminentemente assegurada, vai exigir sacrifícios "para uma geração". Mas o que mais me choca ainda é o tom nonchalant com que debita as novas ameaças, como se, milhão a mais milhão ou a menos, dois anos a mais ou dois anos a menos, não fizesse grande diferença nas vidas concretas de gente concreta, destruídas a mando da sua incompetência.
Sim, incompetência: porque o mais extraordinário de tudo é pensar que Vítor Gaspar impôs ao país uma política de austeridade suicida que o conduziu a uma das maiores recessões da sua história e sem fim à vista e, em troca, não conseguiu as duas que ele e os demais profetas da sua seita de fanáticos juravam ir alcançar sobre as ruínas do país: nem fez a reforma do Estado nem controlou o crescimento da dívida pública — pelo contrário, perdeu-lhe o controlo.
Por onde andam os HOMENS deste País?
Com este título, Miguel Sousa Tavares publicou no Expresso, uma violentíssima crónica que divulgo.
É importante que se repita, cem vezes se necessário for, que estamos nas mãos de um louco, acolitado por dois incompetentes.
‘Pode, se o deixarem à solta: é o que Vítor Gaspar está há quase dois anos a tentar fazer a Portugal. Ele dará cabo do país e não deixará pedra sobre pedra se não for urgentemente dispensado e mandado regressar à nave dos loucos de onde se evadiu.
Já suportámos tudo a Vítor Gaspar: nove trimestres consecutivos de previsões sucessivamente falhadas; erros de avaliação de uma incompetência chocante; subidas de impostos que conseguiram o milagre de fazer cair a receita fiscal; meio milhão de novos desempregados em menos de dois anos e milhares de empresas chutadas para a falência; cortes cegos em tudo o que estava em marcha para mudar o nosso paradigma de país subdesenvolvido — como a aposta na investigação, na ciência, nas novas tecnologias, nas energias alternativas; um despudor e uma arrogância a corrigir os erros cometidos com novos erros idênticos, que, mais do que teimosia e obstinação suicidarias, revelam sim o desespero de um ditador intelectual perdido no labirinto da sua ignorância. Gaspar não sabe como sair do desastre em que nos meteu e, como um timoneiro de uma nave em rota de perdição, ele já não vê nem passageiros nem carga, ou empregos e vidas a salvar: prefere que o navio se afunde com todos a bordo e ele ao leme. Sem sobreviventes nem testemunhas.
Vendo-o na sua última aparição pública, a dar conta das linhas orientadoras do DEO, percebi que ele já não tem rumo nem bússola. Nem sequer tem linhas orientadoras da estratégia orçamental ou do que quer que seja. Apenas tem um número, que, aliás, vai sucessivamente engrossando à medida que o desastre se vai tomando cada dia mais nítido: 1,3 mil milhões, 4 mil milhões, 6,5 mil milhões. Cada nova previsão falhada, cada novo erro de avaliação por ele cometido, tem como consequência, não um pedido de desculpas ou a promessa de se render e arrepiar caminho, mas antes a ameaça de mais e mais sacrifícios sobre uma economia e um povo exauridos. Afinal, anuncia ele agora, a recessão não vai inverter-se no final deste ano, como previra, mas só lá para 2015 ou 16; afinal, o "desemprego ainda vai subir antes de começar a descer" daqui a uns dois anos, talvez; afinal, a "sustentabilidade das contas públicas", que nos diziam iminentemente assegurada, vai exigir sacrifícios "para uma geração". Mas o que mais me choca ainda é o tom nonchalant com que debita as novas ameaças, como se, milhão a mais milhão ou a menos, dois anos a mais ou dois anos a menos, não fizesse grande diferença nas vidas concretas de gente concreta, destruídas a mando da sua incompetência.
Sim, incompetência: porque o mais extraordinário de tudo é pensar que Vítor Gaspar impôs ao país uma política de austeridade suicida que o conduziu a uma das maiores recessões da sua história e sem fim à vista e, em troca, não conseguiu as duas que ele e os demais profetas da sua seita de fanáticos juravam ir alcançar sobre as ruínas do país: nem fez a reforma do Estado nem controlou o crescimento da dívida pública — pelo contrário, perdeu-lhe o controlo.
Mas para onde foram então os 24.000 milhões de euros que as políticas de austeridade de Vítor Gaspar roubaram à economia, às empresas e aos trabalhadores e pensionistas, nestes dois anos ? Sumiram-se para onde, serviram para quê ?
Incompetência, porque tudo aquilo que Vítor Gaspar sabe fazer e faz, qualquer merceeiro, sem ofensa, sabe fazer: contas de somar e subtrair. Agora, faltam-lhe 6,5 mil milhões ? É fácil de resolver, basta agarrar numa caneta e num papel.
Ora, vejamos: conta de subtrair - tiram-se 2 mil milhões aos pensionistas e 3 mil milhões aos salários dos funcionários públicos. Temos 5 mil milhões, faltam 1,5.
Conta de somar: aumenta-se o IRS (o único imposto que ainda garante retomo acrescido na receita fiscal). Aí estão os 6,5 mil milhões - a "reforma do Estado". Mas alguém lembra então a Gaspar que isto vai significar menos consumo privado e que menos consumo significa mais falências, mais desemprego, mais subsídios de desemprego a pagar. Contrariado, Gaspar volta a agarrar na caneta e desenha nova "medida de estratégia orçamental", ou seja, nova conta de subtrair: tira-se meio milhão às verbas do subsídio de desemprego. E quando alguém lembra ao ministro que o subsídio de desemprego já foi reduzido na sua duração a um paliativo mínimo e as suas regras de acesso, de tão restritivas que são, apenas abrangem 45% dos desempregados, Gaspar responde: "Então, por isso mesmo, e, aliás, em obediência ao princípio da igualdade, diminui-se a prestação aos que a têm".
É assim que Vítor Gaspar governa o país, perante a aquiescência do primeiro-ministro e a cumplicidade do Presidente da República. Eles sustentam que tudo fará sentido e valerá a pena no dia em que Portugal regressar aos mercados.
Incompetência, porque tudo aquilo que Vítor Gaspar sabe fazer e faz, qualquer merceeiro, sem ofensa, sabe fazer: contas de somar e subtrair. Agora, faltam-lhe 6,5 mil milhões ? É fácil de resolver, basta agarrar numa caneta e num papel.
Ora, vejamos: conta de subtrair - tiram-se 2 mil milhões aos pensionistas e 3 mil milhões aos salários dos funcionários públicos. Temos 5 mil milhões, faltam 1,5.
Conta de somar: aumenta-se o IRS (o único imposto que ainda garante retomo acrescido na receita fiscal). Aí estão os 6,5 mil milhões - a "reforma do Estado". Mas alguém lembra então a Gaspar que isto vai significar menos consumo privado e que menos consumo significa mais falências, mais desemprego, mais subsídios de desemprego a pagar. Contrariado, Gaspar volta a agarrar na caneta e desenha nova "medida de estratégia orçamental", ou seja, nova conta de subtrair: tira-se meio milhão às verbas do subsídio de desemprego. E quando alguém lembra ao ministro que o subsídio de desemprego já foi reduzido na sua duração a um paliativo mínimo e as suas regras de acesso, de tão restritivas que são, apenas abrangem 45% dos desempregados, Gaspar responde: "Então, por isso mesmo, e, aliás, em obediência ao princípio da igualdade, diminui-se a prestação aos que a têm".
É assim que Vítor Gaspar governa o país, perante a aquiescência do primeiro-ministro e a cumplicidade do Presidente da República. Eles sustentam que tudo fará sentido e valerá a pena no dia em que Portugal regressar aos mercados.
Não é um sonho, é um delírio: quanto mais o PIB cai mais sobe a dívida pública, calculada em percentagem do PIB. E, quando olharem para nós, sem a “protecção” da troika, o que irão os mercados ver? Um país em recessão permanente, com a dívida sempre a subir e governado por Passos Coelho e Vítor Gaspar. Em que filme de aventuras é que eles aprenderam que um país assim é salvo por filantropos? Não, Gaspar não nos vai levar de volta aos mercados, a não ser em condições de estertor final; ele vai é levar-nos de volta a um novo resgate. E esse vai fazer-nos retroceder cem anos.
Há alternativa? Há, tem de haver. É isso que o novo primeiro-ministro italiano, Enrico Lette, anda a dizer pela Europa fora: tem de ser possível fazer a reforma financeira dos Estados e fazer aceitar os sacrifícios necessários para tal, desde que, em contrapartida, tudo o que os governos tenham para oferecer não seja uma geração de sacrifícios, como anuncia displicentemente Vítor Gaspar. Porque, como disse Leite, aquilo que não faz sentido e que é intolerável é continuar com políticas que geram taxas de desemprego de 15, 20, 25% e de desemprego juvenil entre 30 a 50%. Pode ser que na nave dos loucos onde se produzem génios da dimensão de um Vítor Gaspar se tenha congeminado a tese final do capitalismo triunfante: uma economia sem trabalho e sem trabalhadores. Às vezes dá-me mesmo a ideia de que sim, mas é preciso que a loucura deles seja da estirpe mais perigosa de todas para imaginarem que a Europa e qualquer uma das suas nações sobreviverá assim e pacificamente.
Mesmo com um Governo italiano arrastando ainda e uma vez mais o fantoche de Berlusconi, mesmo com uma França chefiada pelo triste Hollande ou uma Espanha chefiada pelo incapaz Rajoy, mesmo com a Grécia de Samaras, a Europa do sul está finalmente a mover-se, por instinto de sobrevivência. Sem perder tempo, Lette foi direito à origem do mal: a Berlim e a Bruxelas. Ele não fará abalar Angela Merkel nas suas convicções e interesses próprios e não conseguirá também fazer com que Durão Barroso deixe de oscilar conforme o vento, até ficar tonto. Mas, se conseguir unir o sul e juntar-lhe outros povos acorrentados pelos credores e condenados à miséria, enquanto o norte prospera sobre a ruína alheia, de duas uma: ou a Europa se reconstrói como uma livre associação de Estados livres ou implode às mãos da Alemanha. Qualquer das soluções é melhor do que esta morte lenta a que nos condenaram. (…)
É claro que nada disto dá que pensar a Vítor Gaspar, que vem de outro planeta e para lá caminha, nem a Passos Coelho, que estremece de horror só de pensar que alguém possa desafiar a autoridade da sua padroeira alemã. Nisso também tivemos azar: calhou-nos o pior país para viver esta crise. Mas este Governo vai rebentar, tem de rebentar. Porque a resposta à pergunta feita acima é não. Não, um homem sozinho não pode dar cabo de um país com quase nove séculos de história.
sábado, 11 de maio de 2013
Deputados do Parlamento Europeu contra a Troika!
Deputados de Esquerda do Parlamento Europeu estão contra a Troika e espírito neocolonial que move pérfidos interesses.
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segunda-feira, 6 de maio de 2013
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