[Texto de Daniel Deusdado, no JN de 1 de Novembro de 2012, original aqui]
Passos+Relvas+Dias Loureiro
Parece que discutir o Orçamento do Estado é a coisa mais importante para o
futuro do país, mas não é bem assim. Insisto num ponto: a maioria dos
portugueses não saem do transe em que estão (pós TSU) por não terem confiança em
quem está ao leme deste barco. Os sacrifícios não adiantam se não há um rumo e
uma moral coletiva. Cada dia que passa é menos um e o ar torna-se irrespirável.
Por isso é relevante trazer à liça um facto que tem espantado os corredores da política em Lisboa - a de que Dias Loureiro é uma figura cada vez mais próxima e influenciadora das decisões do primeiro-ministro. Ora, com o currículo como o de Loureiro (figura atolada no escândalo BPN e na utilização de offshores como poucos), trata-se de um despudor total. Uma espécie de exibição de um poder despótico, sem controlo nem respeito pelos cidadãos. Clarificando as coisas: teremos então a tríade "Relvas-Borges-Dias Loureiro" como conselheiros para as privatizações, nomeações estratégicas e alterações legislativas? Se é assim eu prefiro que o Governo caia, por muitos riscos que possam existir de imediato para o país. Porque, com estas cabeças, evidentemente a defesa do bem público não está garantida. Jorge Sampaio, com menos caos social, pôs Santana Lopes na rua, e bem. Não há ilusões de que os sacrifícios estão para durar, mas é preciso acreditar em alguém - e está difícil. António Costa preferiu o conforto da tática política do que assumir-se como natural líder da Oposição, que é, desde a saída de Sócrates. Passou pouco mais de um ano e, afinal, já teria o país na mão. Mas agora não pode avançar. Isto gera o maior obstáculo de todos: nem eleições salvam a situação porque Passos e Seguro parecem intransponíveis. Sem eles teríamos à frente do PSD e PS provavelmente Paulo Rangel e António Costa. Mas os dois jotas não saem da frente. Portanto, isto só parece resolver-se através de Cavaco, mas o presidente da República continua apenas a enviar sinais de fumo aos índios. E não avança - com Miguel Cadilhe, Rangel ou alguém em quem confie. Daí a gravidade de misturar o problema do Orçamento de Gaspar com o caos de liderança. A questão não está apenas na austeridade mas na credibilidade. O atoleiro em que o primeiro-ministro nos meteu depois da TSU de 7 de setembro coloca os portugueses entre a espada e a parede - e eles estão a escolher a espada, a luta, o caos social. As pessoas falam de desperdícios que são simbólicos mas não fazem a mínima ideia de que isto não se resolve com as pequenas coisas. Todavia, cada um daqueles elementos de "despesismo" corresponde a uma ética. Repare-se: há 26 mil carros nos serviços públicos de todo o país. Faz sentido? E as reformas eternas, cumulativas, de quem esteve na política e tem muitos outros rendimentos? E há ainda as PPP e muitas outras rubricas da despesa... Tudo coisas em que é preciso tempo para se cortar bem. Mas já não se acredita que aconteça. Não há uma visão nova, fora do quadrado. É sempre a mesma receita: impostos. Claro, o risco de tudo isto transbordar de forma incontrolável é o da saída do euro. Mas é exatamente por isso que creio valer a pena lutar já, para evitá-la. Porque, com jeito e seriedade, é possível renegociar com a troika, com os credores, tentar pensar no crescimento por via de menores aumento de impostos e não tanto pela lógica de despejar dinheiro em "setores", "empresas" (como sonha o Álvaro) ou através do investimento público, como quer a Esquerda. Para isso é preciso alguém, dentro da democracia, com uma ideia. E uma moral. Sábado, fim da tarde: os noticiários da rádio passam Miguel Relvas a pedir sacrifícios aos portugueses: "Precisamos, acima de tudo, de espírito patriótico, trabalho e determinação". Isto no dia em que se soube que, da sua turbolicenciatura, fazem parte disciplinas que à data nem sequer existiam. "Espírito patriótico, trabalho e determinação"!!!, diz ele. Não há moral |
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